A disputa pelos minérios da Amazônia já começou

O Amazonas vive um momento decisivo. A transição energética e a corrida global por minerais estratégicos colocam o estado no centro de um tabuleiro geopolítico disputado por grandes potências. Nióbio, tântalo, estanho, tório e terras raras repousam em nosso subsolo, fundamentais para a indústria de alta tecnologia, mas ainda incapazes de se converter em prosperidade para uma população que convive com a pobreza – principalmente no interior. O desafio é claro: transformar essa riqueza em soberania e progresso, sem abrir mão da preservação ambiental.
No município de Presidente Figueiredo, distante 119 quilômetros de Manaus, a Mina de Pitinga simboliza esse dilema. Há cinco décadas, a Mineração Taboca explora cassiterita e columbita, movimentando mais de R$ 500 milhões ao ano em exportações e gerando 1,2 mil empregos diretos. O município recebe cerca de 6% de sua receita em royalties. Além da importância econômica, a mina abriga reservas de nióbio, tântalo, estanho e tório — insumos cruciais para foguetes, baterias e turbinas. Em novembro de 2024, a empresa foi vendida por US$ 340 milhões — cerca de R$ 2 bilhões — à estatal chinesa China Nonferrous Trade (CNT). A Justiça Federal determinou que órgãos e empresas envolvidas detalhem a operação, após denúncia de violação da Constituição e de normas que restringem o controle de recursos estratégicos por estrangeiros.
A situação não se restringe a Presidente Figueiredo. Reservas de potássio, nióbio, tântalo e estanho estão presentes em municípios como Autazes, São Gabriel da Cachoeira, Nova Olinda do Norte, Itacoatiara e Apuí. Esses minerais, considerados críticos para a transição energética e até para a segurança alimentar, não podem permanecer à margem de um debate nacional sério sobre exploração responsável.
Um alerta, nesse sentido, veio do diretor do Instituto Brasileiro de Mineração, Júlio Nery. O especialista lembrou, recentemente, que a China já domina 95% da produção mundial de terras raras. Se o Brasil permitir que suas reservas sigam sob domínio externo, abrirá mão de protagonismo em um setor crucial para a economia verde e para o futuro tecnológico. E o momento é estratégico: em um cenário global marcado por tensões geopolíticas, China e Estados Unidos disputam o acesso a esses recursos.
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Há lições a aprender. O Chile transformou o lítio em plataforma de inserção internacional. Canadá e Austrália criaram legislações que aliam exploração mineral, retorno social e segurança nacional. O Brasil precisa seguir esse caminho, especialmente no Amazonas, colocando ciência, tecnologia e responsabilidade no centro da mineração.
O que falta é regulação clara e firme. Pensando nisso, o estado do Amazonas criou recentemente uma Secretaria de Mineração, tratando o tema de forma prioritária nas suas políticas de planejamento. Enquanto nação, fortalecer a soberania nacional sobre os recursos minerais estratégicos significa assegurar que a exploração, o beneficiamento e a industrialização das terras raras ocorram sob o comando do interesse público, preservando a autoridade do Brasil sobre riquezas de altíssimo valor geopolítico e tecnológico. E, parte dos recursos deve ser revertida em educação, saúde, segurança pública e inovação, para que a riqueza mineral se traduza em desenvolvimento social.
O Brasil precisa avançar na construção de uma cadeia produtiva completa para transformar seus recursos estratégicos em empregos qualificados, inovação e competitividade global.Ao assumir esse caminho, nosso país se posiciona como protagonista da economia verde mundial.
A disputa pelos minérios da Amazônia já começou. E cabe a nós decidir se seremos meros espectadores ou líderes na transformação dessa riqueza em futuro.
Tadeu de Souza, vice-governador do Amazonas, é advogado e procurador do estado de carreira. Foi procurador-geral do Estado do Amazonas (2017) e secretário-chefe da Casa Civil da Prefeitura de Manaus (2021-2022).
Matéria: Gazeta do Povo





