Não é “Black Friday”, é Sexta Afrodescendente

O chanceler alemão Friedrich Merz (nome de nazista) disse ter ficado feliz em voltar para a Alemanha (sim, aquela mesma, nazista). A frase poderia parar aí: um alemão ficar feliz em voltar para a Alemanha é certamente nazismo. Como também o são fazer “ok” com os dedos, beber leite, morar em Santa Catarina, não chamar o Laerte de mulher, citar Dylan Thomas e gostar de saneamento básico.
Mas a coisa foi pior: Friedrich Merz (nome claramente nazista) disse a frase nazista para jornalistas que cobrem ambientalismo (que é um tema que foi verdadeiramente criado pelos nazistas, mas não estraguemos a piada). Os jornalistas ambientalistas todos concordaram com Merz. Só faltou mesmo o Sieg Heil! no final.
Dizer que a organização da COP 30 em Belém foi ruim, que faltou ar-condicionado, que faltou água no banheiro para dar descarga no primeiro dia, que cobraram R$ 10 mil de diária num moquifo só para arrancar dinheiro dos gringos, e que até as garotas de programa de Belém reclamavam que a gringaiada pechinchava muito (não é adorável ver ambientalista frequentador das primas, tão preocupado com as girafas e ursos polares da Amazônia, e ainda dando uma ajuda para as profissionais noturnas de 17 anos?) é puro preconceito.
Por exemplo, o deputado Rogério Correia (PT-MG) disse que não precisa de gringos, que só quer o dinheiro deles. Dizer que petistas só queriam tentar faturar um, portanto, é claramente preconceito.
Pior ainda é dizer que Lula e Janja torraram 150 litros de diesel por hora em um iate de luxo. Que preconceito neocolonial de extrema-direita é este com nossos fósseis?! Acham que não podem virar combustível para um casal presidencial gastar, só porque são de terceiro mundo e bregas?
Ou então que os Barbalho têm uma vida nababesca enquanto 91% do estado joga o que sai das privadas diretamente no rio, sem tratamento nenhum. Todo mundo sabe que reclamar das palafitas paraenses é claramente coisa de quem tem uma suástica tatuada no braço.
Foi o que disse o gênio Eduardo Paes, chamando Friedrich Merz, nazista, de “nazista”. E também de “filhote de Hitler”. Sempre devemos render loas à criatividade de nossos políticos. Um imaginário avançado, um vocabulário escorreito, uma precisão conceitual socrática.
Ainda bem que gastam bem nosso dinheiro estudando, como a população não pode. É de se pensar no que teria ocorrido se Friedrich Merz tivesse dito que Maricá é “uma m… de lugar”. Só faltaria algum supremacista branco o condecorar como cidadão de Maricá… como o próprio Eduardo Paes o foi, seis anos após ter dito o mesmo.
Todos sabem que criticar a organização de m… da COP 30 e praticar genocídio em escala dos milhões é a mesma coisa.
As falas preconceituosas, xenofóbicas, machistas, homofóbicas, neocoloniais, racistas, misóginas, misândricas, segregacionistas, supremacistas, intolerantes, discriminatórias, classistas, elitistas, etnocêntricas, totalitárias, autoritárias, chauvinistas, eugenistas, opressoras, dogmáticas, sectárias, evangélicas, obscurantistas, negacionistas, antidemocráticas, bolsonaristas e golpistas contra o Estado Democrático de Direito de Friedrich Merz (nome de nazista) e seus aliados jornalistas nazistas foram ditas duas semanas antes da chamada “Black Friday”.
O racismo estrutural mostra toda a sua força durante este evento neocolonial, supremacista e intolerante. A aceitação da autodeclarada “Black Friday” é mais um golpe do imperialismo estadunidense contra a nossa cultura de oferecer descontos custando a metade do dobro, do migué na cobrança do preço do mecânico, da contabilidade criativa, da meia-entrada fazendo tudo custar o dobro, da faculdade pública onde o filho da empregada paga para o playboy não precisar pagar nem pelo estacionamento, do mensalão e do petrolão, de chamar imposto de “arrecadação” e esfregar na cara da sociedade que precisam ser aumentados para “fechar as contas públicas”, ao invés de parar de assassinar fósseis para financiar o convescote da Janja.
“Black Friday” é a ideia de que tudo o que é black vale menos. Uma postura escravocrata e supremacista. Um novo nazismo. Fora este termo racista e diminuidor das minorias. Black. Tudo bem que em inglês dizer “preto” é que é normal, e “negro”, ou “nigger”, é que pega fogo, e em português é o exato contrário (coitado do Schwarzenegger, cujo nome pode ser traduzido como “preto negro”, mas ele, além de loiro, ainda é austríaco, então também é nazista). É como quem acha que o White Album dos Beatles é melhor do que o Black Album do Metallica.
O que importa é problematizar. Só problematizando é que um jovem da periferia pode se sentir assim, digamos, um Eduardo Paes.
Quando o racismo estrutural une-se ao imperialismo neocolonialista, só nos resta o pós-estruturalismo neomarxista como salvação. Tal como o “Dia do Saci”, proposto por Aldo Rebelo, também devemos imediatamente adotar a “Sexta Afrodescendente”. Assim, certamente acabaremos com o racismo e os negros sentir-se-ão melhores.
(Como vivemos em um mundo em que há muitos debilóides, talvez seja importante alertar a você, caso seja um debilóide, que este texto foi irônico.)
Matéria: Gazeta do Povo





