setor da Defesa e o futuro dos créditos de carbono

A COP 30, em Belém, abre uma janela inédita para que o Brasil alinhe sustentabilidade, segurança e desenvolvimento estratégico. Se para o setor privado as oportunidades estão no financiamento verde, na bioeconomia e na transição energética, para o setor de Defesa a conferência representa muito mais: a chance de se posicionar como protagonista da logística e da resiliência climática. Forças Armadas que incorporam tecnologias limpas, autonomia energética e proteção da Amazônia Azul tornam-se não apenas garantidoras da soberania, mas também parceiras essenciais na construção de cadeias de valor sustentáveis.
Entretanto, a consolidação dessa liderança depende de ajustes urgentes. O chamado “ajuste de correspondente” permanece como um gargalo regulatório: milhões de dólares em potenciais negócios já foram desperdiçados por falta de clareza normativa e alinhamento com padrões internacionais. Enquanto investidores globais exigem segurança jurídica e previsibilidade, o Brasil ainda patina em transformar promessas em ativos reconhecidos.
Outro ponto central é o destino dos créditos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Embora vinculados ao Protocolo de Kyoto, muitos desses créditos permanecem em estoque e, se corretamente valorizados, ainda podem ser utilizados em negociações internacionais ou convertidos em instrumentos de transição para o mercado regulado do Artigo 6 do Acordo de Paris. Ignorar essa oportunidade significaria deixar escapar bilhões em ativos que poderiam financiar adaptação climática, inovação em defesa e projetos de baixo carbono.
O futuro exige pragmatismo. O Brasil precisa agir em três frentes: 1) acelerar a regulamentação do ajuste de correspondente para não perder competitividade; 2) oferecer ao setor de Defesa um papel claro na COP 30, integrando segurança climática e operacional; 3) valorizar o estoque de MDL como ativo de transição, em vez de permitir sua obsolescência.
Se conseguir alinhar regulação, defesa e finanças verdes, o país não apenas liderará a COP 30, mas consolidará uma posição estratégica na geopolítica climática: soberania com sustentabilidade e negócios com escala global.
Luiz Alberto Cureau Júnior é oficial general da reserva do Exército e consultor climático do Instituto Climático VBH.
Matéria: Gazeta do Povo





