Conheça as facções inimigas do Comando Vermelho

Deflagrada em 28 de outubro de 2025 nos Complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro, a Operação Contenção teve como alvo a facção criminosa Comando Vermelho (CV). O saldo da presença policial para cumprir mandados de prisão foi de quatro agentes mortos, além de ao menos 117 supostos integrantes do CV, dezenas deles vindos de outros estados.
Para combater a mais antiga organização criminosa ainda em atividade no país, as autoridades mobilizaram cerca de 2.500 policiais, que foram recebidos por aproximadamente mil homens armados, segundo estimativas.
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O CV não se arma apenas para resistir à polícia. A facção, com ramificações em diversos estados, também enfrenta grupos rivais, com os quais trava disputas frequentes.
Diferente do que se imaginava no passado, as facções de traficantes não foram substituídas por milicianos, ao contrário. Elas demonstraram força nos últimos anos, fortalecidas pela falta de medidas mais drásticas do estado para expurgá-las.
A seguir, conheça a história dos principais inimigos do CV, dentro e fora do Rio de Janeiro:
Primeiro Comando da Capital (PCC)
O PCC chegou a manter uma trégua com o CV que visou o fortalecimento de ambas as facções. Informações da polícia dão conta que esta trégua foi rompida no primeiro semestre deste ano.
Conhecido como o “sindicato” ou “partido do crime”, o PCC surgiu no presídio de Taubaté (SP) em 1993, como reação ao massacre do Carandiru, que terminou com 111 mortes e levou à demolição do presídio.
A facção foi criada para proteger os presos e oferecer apoio financeiro às famílias dos seus integrantes. O grupo estabeleceu um estatuto interno com regras próprias — entre elas, a proibição de estupros dentro das prisões e assaltos dentro das comunidades para não atrair a polícia.
Atualmente, o PCC é considerado uma das cinco organizações criminosas mais poderosas do mundo pela Polícia da Europa (Europol) e tem presença em quase toda a América Latina, especialmente na Bolívia e no Paraguai.
A facção funciona em divisões chamadas “Sintonias”, sendo a mais alta comandada por Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, preso em um presídio federal de segurança máxima.
Em maio de 2006, uma onda de ataques coordenados pelo PCC paralisou a cidade de São Paulo, resultando em mais de 560 mortos.
Em novembro de 2024, o delator do PCC Vinícius Gritzbach foi morto a tiros no aeroporto de Guarulhos. O ato bárbaro foi visto como um recado do poder do grupo criminoso, que não teria constrangimento em matar uma pessoa em um local fortemente policiado.
Em janeiro, oito integrantes da chamada “sintonia restrita” foram condenados a penas de até 14 anos de prisão por um plano para matar o senador Sergio Moro (União Brasil), e mais autoridades. Outros dois suspeitos de participar do plano foram assassinados nas ruas no ano passado. Estima-se que o grupo conte com cerca de 30 mil ou 40 mil integrantes em todo o Brasil.
Com a expansão para outros estados, o PCC criou grupos aliados e dissidentes, como a Família do Norte (FDN), na região Norte, e os Guardiões do Estado (GDE), no Nordeste. Ambos acabaram ganhando autonomia e, em alguns casos, enfrentando o próprio PCC.
Terceiro Comando (TC)
Diferentemente de sua dissidência, o Terceiro Comando Puro (TCP), o Terceiro Comando (TC) surgiu no Rio de Janeiro como uma alternativa ao domínio do Comando Vermelho em meados da década de 1990.
A origem da facção é incerta, mas há indícios de que tenha sido formada a partir do grupo “Comando Jacaré”, que teve atuação discreta como rival do CV nos anos 1980.
O TC chegou a ser aliado da facção Amigos dos Amigos (ADA), mas após uma rebelião no presídio de Bangu I, em setembro de 2002, a aliança foi rompida.
Vários líderes do grupo foram executados por ordem de Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, chefe do CV. Entre os mortos, Ernaldo Pinto Medeiros, o Uê.
Celsinho da Vila Vintém, da ADA, foi apontado como traidor do grupo. Após os conflitos, muitos integrantes migraram para a ADA ou fundaram o Terceiro Comando Puro.
Terceiro Comando Puro (TCP)
Formado por remanescentes do Terceiro Comando, o TCP assumiu o controle de Parada de Lucas e outras comunidades menores após o colapso do grupo original, em 2002.
Segundo informações de inteligência policial de julho de 2025, o TCP é considerado a segunda maior facção do Rio de Janeiro, controlando 35 áreas de risco.
Atualmente, o grupo detém 21,5% dos territórios dominados e é o principal rival do Comando Vermelho no Rio.
A facção se expandiu para estados como Amazonas, Ceará, Bahia e Espírito Santo e ganhou notoriedade por incorporar elementos do pentecostalismo carismático. O grupo batizou um conjunto de comunidades como “Complexo de Israel”, formado por Parada de Lucas, Vigário Geral e Cordovil.
Os pacotes de drogas do TCP são decorados com a Estrela de Davi, símbolo que representa, segundo eles, a “Segunda Vinda”.
Amigos dos Amigos (ADA)
A facção Amigos dos Amigos (ADA) teve como grande trunfo o domínio da Rocinha, a maior favela do Brasil, por décadas. O grupo também dominou outra badalada favela da zona sul, o Vidigal, e o local era controlado com discrição pelo traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem.
O grupo foi fundado por Paulo César Silva dos Santos, o Linho, em parceria com Uê, criador do Terceiro Comando e ex-integrante do CV.
A ADA se destacava por tratar o tráfico como um negócio comum, evitando confrontos violentos – exceto quando havia ameaças ao território. Seus líderes buscavam discrição, ao contrário da procura por expansão, ostentação e violência típicas do CV.
Nos anos 1990, a ADA chegou a tomar o Complexo do Alemão do Comando Vermelho, mas perdeu o domínio posteriormente. Em 2007, conquistou o Morro da Mineira e marcou a vitória pintando os barracos de verde.
Em 2009, integrantes da facção derrubaram um helicóptero da polícia no Morro dos Macacos, episódio que gerou um dos maiores confrontos entre traficantes e policiais da década.
Com o passar dos anos, a ADA perdeu força — passando de segunda maior facção do Rio para um controle residual de apenas 4% das favelas. Prisões, mortes e ataques do CV e de milícias praticamente extinguiram sua atuação.
Desde a prisão de Nem, em 2011, que tentou fugir dentro de um carro antes da instalação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), o domínio da Rocinha tornou-se instável. Não há informações claras sobre quem controla a comunidade atualmente.
Matéria: Gazeta do Povo






