Henrique Meirelles defendeu o papel das reformas estruturais e das reservas internacionais como pilares da estabilidade econômica brasileira, durante palestra promovida pelo Movimento Pró-Paraná. O ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central falou a lideranças políticas e empresariais sobre os cenários econômico nacional e internacional, destacando o “realismo esperançoso” que deve guiar as decisões públicas.
“O Brasil está crescendo acima do previsto graças às reformas implementadas entre 2016 e 2018, que elevaram a produtividade e a eficiência da economia”, afirmou Meirelles, ao citar a reforma trabalhista, a lei das estatais e o Cadastro Positivo, que viabilizou inovações como o Pix. O sistema de pagamentos instantâneos, segundo ele, é “um dos instrumentos mais revolucionários criados no país, usado por 76% da população adulta”, e ajudou a dinamizar o mercado interno.
O ex-ministro ressaltou que o Brasil tem hoje “uma posição de tranquilidade externa”, sustentada por cerca de US$ 350 bilhões em reservas internacionais, acumuladas ao longo das últimas décadas. “Essas reservas são fundamentais para evitar crises cambiais, como as que abalaram a Argentina. Quando há saída de capital, o país tem colchão suficiente para manter a confiança e a estabilidade”, disse.
Meirelles lembrou que, quando assumiu o Banco Central, em 2003, o Brasil devia US$ 30 bilhões ao FMI e tinha apenas metade disso em reservas. “Assinei o cheque de pagamento ao FMI e, a partir daí, o país começou a acumular reservas. Essa foi uma virada estrutural para a credibilidade da economia brasileira”, afirmou.
Apesar de reconhecer avanços, o ex-ministro demonstrou preocupação com o aumento do gasto público e o crescimento da dívida interna, que pode chegar a 90% do PIB até 2028, segundo projeções do FMI. “O desequilíbrio fiscal é insustentável a longo prazo. O Brasil precisará de um novo ajuste, seja de forma organizada, seja imposto pela realidade do mercado”, alertou.
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Brasil cresce quando adota políticas certas e responsabilidade fiscal
Para Meirelles, a retomada do equilíbrio fiscal passa pela reforma administrativa, capaz de reduzir despesas obrigatórias e realocar recursos para áreas prioritárias, como saúde e educação. “É preciso enfrentar estruturas ineficientes, extinguir empresas estatais sem função e direcionar o dinheiro público onde ele realmente faz diferença”, afirmou, lembrando experiência semelhante como secretário da Fazenda de São Paulo, entre 2019 e 2022.
Ao ser questionado sobre o futuro do Sistema Único de Saúde (SUS), Meirelles defendeu que a solução para o subfinanciamento do setor está na melhor gestão dos recursos. “Não cabe aumentar impostos, mas administrar melhor. Uma reforma administrativa eficiente no governo federal poderia liberar até R$ 200 bilhões para áreas essenciais”, afirmou.
O ex-ministro também destacou o papel do agronegócio e da reforma tributária na elevação da produtividade nacional. “O Brasil precisa de um sistema tributário mais simples e de políticas públicas que estimulem o setor privado. O Estado deve criar as condições para o crescimento, e não tentar comandá-lo”, afirmou. Segundo ele, a carga e a complexidade tributárias ainda encarecem a produção industrial e limitam a competitividade.
Sobre o cenário global, Meirelles observou que o crescimento mundial deve desacelerar em 2025, ficando abaixo de 3%, em razão das tensões comerciais entre Estados Unidos e China. Ainda assim, avaliou que a economia americana segue “forte e resiliente”, enquanto a chinesa enfrenta ajustes ligados ao excesso de investimentos imobiliários. “O mundo cresce menos, mas não há perspectiva de crise global”, resumiu.
Ao encerrar a fala, Henrique Meirelles afirmou que o país “reage bem quando as políticas certas são adotadas” e elogiou o papel da sociedade civil organizada, como o Pró-Paraná, na construção de consensos e projetos duradouros. “O Brasil oferece muitas possibilidades. Temos um setor empresarial dinâmico e uma população que acredita no trabalho. Quando há estabilidade e responsabilidade fiscal, o crescimento vem”, concluiu.
O presidente do Movimento Pró-Paraná, Marcos Domakowski, destacou o caráter propositivo do encontro. “Henrique Meirelles nos trouxe uma mensagem de esperança e confiança no Brasil. Ele reforçou que, com seriedade e união, é possível construir um país melhor”, afirmou.
Matéria: Gazeta do Povo
