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Paraná

Teatro Guaíra se reafirma como espaço de história e artes no PR

O Teatro Guaíra sempre foi maior do que o conjunto de paredes monumentais que molda sua silhueta no centro de Curitiba. É arquitetura, história, experimentação, escola, memória coletiva e, sobretudo, criação. Muito antes de se consolidar como uma das mais importantes instituições culturais do país, o Teatro Guaíra já era palco simbólico de uma Curitiba que buscava modernidade sem perder a identidade. Hoje, quando celebra o reconhecimento nacional da Academia de Artes no Teatro do Brasil (Ateb), o complexo reafirma o legado construído ao longo de 140 anos, herança que atravessa gerações e transforma a paisagem cultural paranaense.

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Projetado pelo arquiteto Rubens Meister quando ele tinha apenas 22 anos, o Teatro Guaíra começou a ser erguido nos anos 1950, em um Brasil que ainda engatinhava na industrialização. O fato de a construção exigir a importação de um guindaste alemão, em 1952, já dá a dimensão da ousadia por trás do projeto. Inaugurado por etapas – o Guairinha em 1954, o Guairão em 1974 e o miniauditório em 1975 – o complexo se firmou como marco do modernismo em Curitiba, com grandes vãos, janelas amplas e concreto aparente que conferem fluidez a uma estrutura monumental. “Aqui estão presentes todos os signos da arquitetura modernista”, diz o diretor artístico Áldice Lopes.

Essa monumentalidade, porém, nunca definiu sozinha o Teatro Guaíra. Ele se tornou o que é porque seus espaços foram moldados para produzir arte e não apenas para recebê-la. “O Teatro Guaíra é um complexo de produção. Aqui se produz teatro, ópera, balé, concerto”, afirma Lopes.

Essa essência operária da criação aparece no trabalho cotidiano dos quatro corpos artísticos mantidos pelo governo do Estado: o Balé Teatro Guaíra, a Orquestra Sinfônica do Paraná, a G2 Cia. de Dança e a tradicional Escola de Dança, que completou 70 anos em 2025.

Imagem rara: público acompanha a abertura do Grande Auditório do Teatro Guaíra em 1974, ano da estreia de Paraná, Terra de Todas as Gentes. (Foto: Arquivo Pessoal/Paulo Vitola)

A obra modernista que moldou gerações e sobreviveu ao fogo

O caminho até essa relevância não foi simples. Em 1970, quando o grande auditório estava prestes a ser concluído, um incêndio de grandes proporções destruiu parte da estrutura. O que poderia ter sido um desastre irreversível acabou se transformando em um capítulo essencial da história do Teatro Guaíra. “O teatro ainda estava no concreto. Por sorte, não havia mobiliário nem cortinas instaladas”, detalha Lopes. O fogo não se espalhou por causa da ação rápida do Corpo de Bombeiros e o complexo foi reconstruído e requalificado até a inauguração em 1974.

Preservado como patrimônio cultural do Paraná desde 2003, o edifício passa atualmente por um dos maiores ciclos de restauro de sua história, impulsionado por um repasse estadual de R$ 50 milhões. A reforma envolve acessibilidade, modernização das caixas cênicas, compra de instrumentos e renovação de estruturas históricas, como a manta asfáltica original, cuidadosamente retirada e recolocada. “É um grande investimento na modernização de todos os auditórios […] ao mesmo tempo, preservamos a memória do Teatro Guaíra”, ressalta o diretor-artístico.

A inauguração do Grande Auditório do Teatro Guaíra, em 1974, durante o espetáculo Paraná, de Todas as Gentes, escrito por Paulo Vitola.A inauguração do Grande Auditório do Teatro Guaíra, em 1974, durante o espetáculo Paraná, Terra de Todas as Gentes, escrito por Paulo Vitola e Aderbhal Fortes. (Foto: Arquivo Pessoal/Paulo Vitola)

O Teatro Guaíra como centro vivo de criação artística

O Guairão, o Guairinha e o miniauditório, cada um com identidade própria, formam um ecossistema cultural onde circulam grandes espetáculos, mas também processos de formação artística e produções locais. No Guairinha, palco tradicionalmente associado ao teatro, despontaram nomes que hoje integram a história da dramaturgia brasileira. No Guairão, companhias internacionais, grandes orquestras e estrelas da música já dividiram luzes e aplausos. O miniauditório, por sua vez, deve ser ampliado e readequado, reforçando seu papel como espaço experimental.

O complexo também abriga o Teatro José Maria Santos, fruto da mobilização da classe artística paranaense. “É um teatro da classe, com uma história de resistência”, resume Lopes. O espaço, que recebe espetáculos adultos e infantis, complementa a proposta do Guaíra ao servir de porta de entrada para novos artistas e públicos.

Essa vocação para circulação e formação se expressa também nas turnês recentes dos corpos artísticos, que levaram o Balé Teatro Guaíra a Portugal e à Dinamarca, e a Orquestra Sinfônica do Paraná ao centro nacional com apresentações na Sala São Paulo e na Sala Minas Gerais.

Interior do Grande Auditório do Teatro Guaíra, um dos maiores espaços cênicos da América Latina, reconhecido pela arquitetura modernista e pela excelência técnica.Interior do grande auditório do Teatro Guaíra, um dos maiores espaços cênicos da América Latina, reconhecido pela arquitetura modernista e pela excelência técnica. (Foto: Divulgação/CCTG)

Reconhecimento nacional chega como celebração, não como destino

No ano em que vive um dos períodos mais ativos e plurais de sua trajetória, o Teatro Guaíra foi eleito a melhor casa de espetáculos do Brasil no Prêmio Cenym 2025 – o “Oscar do teatro brasileiro”. O prêmio, concedido pela Ateb, avaliou qualidade técnica, programação e contribuição cultural.

Para o diretor-presidente do teatro, Cleverson Cavalheiro, o reconhecimento coroa uma fase de renovação. “As políticas públicas de descentralização, circulação, ingressos acessíveis e divulgação impulsionada pelas redes sociais foram decisivas para essa premiação”, explica. “O Teatro Guaíra tem uma tradição de grandes montagens e grandes espetáculos. Uma geração construiu o teatro que ele é hoje”, completa.

A conquista, no entanto, não altera o foco do complexo: criar arte, formar público e preservar seu patrimônio. O teatro que impressiona por suas dimensões — tem 16,9 mil metros quadrados e capacidade para 2,8 mil pessoas — continua sendo, sobretudo, um organismo vivo. Um espaço que ressoa histórias, talentos e movimentos que moldam o imaginário de quem passa por ele.

O prêmio chega como símbolo de um momento, não como ponto de chegada. Como diz Áldice Lopes, o Guaíra segue sendo, acima de tudo, “uma casa preparada para receber as grandes companhias de teatro, de dança e os grandes shows”. E que, ao fazê-lo, reafirma diariamente seu papel na cultura brasileira.

Matéria: Gazeta do Povo

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Gabriel de Melo

Criador, fundador e locutor da Rádio Esperança e também do Blog Palavra de Esperança, tem como objetivo divulgar o evangelho de Cristo par outras pessoas através da Internet por meio dos louvores e da palavra de Deus nas mídias sociais.

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