como não ficar no vermelho?

Com a chegada do ano novo, também se aproximam as despesas sazonais, como o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA). Em muitos Estados e municípios, os boletos começam a ser divulgados entre dezembro e janeiro, permitindo que os contribuintes se organizem e, se necessário, parcelem as contas.
Porém, são tantos pagamentos acumulados que fica difícil evitar dívidas quando não se tem um planejamento financeiro prévio.
Sem contar que os gastos de começo de ano não se restringem aos impostos. Entram na lista os seguros (do carro e residencial), matrículas, anuidades de conselhos de classe – como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) –, além da compra de uniformes e materiais escolares para as crianças.
São tantas despesas que, em 2019 apenas 9% dos brasileiros conseguiram pagar os boletos de início de ano apenas com o salário, segundo pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). Para dar conta dos gastos, 31% dos consumidores precisaram juntar dinheiro ao longo do ano, especificamente para IPTU e IPVA.
Falta de planejamento pode virar uma “bola de neve”
O especialista em finanças Eduardo Feldberg, conhecido como “Primo Pobre”, explica que planejar o orçamento familiar para o começo de ano é essencial para evitar endividamento. Segundo a Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (Planejar), cerca de 43% dos brasileiros não têm qualquer valor guardado para gastos não programados, a chamada reserva de emergência.
Feldberg afirma que o trabalhador precisa guardar, no mínimo, R$ 3 mil para emergências simples, como um pneu furado. O ideal, no entanto, é acumular o equivalente a seis meses do custo de vida. Para a maioria dos brasileiros, esse valor mínimo gira em torno de R$ 10 mil. Com essa reserva, já existe uma proteção inicial para o começo do ano. Mas, sem planejamento, o cenário tende a se agravar.
“As pessoas vão deixando a vida levar e vão ver lá na frente como vai dar”, explica o Primo Pobre à Gazeta do Povo. “Nisso de não se planejar, muitas vezes elas não têm onde recorrer. Aí precisam fazer empréstimo, usar cartões de crédito. Começam a arriscar entrar no cheque especial, estourar o limite. Tem gente que, num desespero maior, acaba recorrendo a agiota. A falta de planejamento faz as pessoas tomarem decisões muito ruins que vão afundando cada vez mais elas num buraco.”
Criar uma reserva para contas sazonais ajuda a economizar
Embora a reserva de emergência seja importante, Feldberg recomenda a criação de uma segunda reserva, exclusiva para as contas sazonais. Isso porque impostos, seguros e anuidades são previsíveis e costumam oferecer descontos para quem paga à vista.
O estado de São Paulo, por exemplo, garante desconto de 3% no IPVA para quem quitar o imposto em pagamento único. Quem preferir parcelar pode dividir em até cinco vezes. Já no Rio de Janeiro, o parcelamento é limitado a três parcelas. As condições variam conforme o estado.
As prefeituras também costumam oferecer abatimentos no IPTU. Curitiba, por exemplo, concedeu 10% de desconto em 2025 para os moradores que pagaram à vista. Ainda assim, é possível optar pelo parcelamento do IPTU.
Como usar o 13º salário para aliviar o começo do ano?
Para aproveitar os descontos e evitar dívidas, o Primo Pobre recomenda que trabalhadores com carteira assinada utilizem o 13º salário e a Participação nos Lucros (PLR) para montar a reserva de contas sazonais. Mas ele reforça a importância do equilíbrio ao receber a renda extra.
“A pessoa precisa equilibrar entre o prazer do hoje e o preparo do amanhã. Quem ganha o 13º vai falar o quê? ‘Eu mereço, trabalhei o ano inteiro’. Só que usar todo o dinheiro para curtir traz desequilíbrio. O ideal é aproveitar, sim – porque a gente trabalha muito – mas também guardar parte desse valor para as contas de janeiro”, afirma.
O melhor modo de planejar e guardar parte dos valores extras é estimar quanto vão custar os gastos sazonais, que geralmente começam a ser pagos em janeiro. Os impostos são os mais fáceis de prever. O valor total dos tributos e de outras contas, como seguro do veículo, costuma corresponder a um percentual do bem.
Em São Paulo, por exemplo, o IPVA equivale a 4% do valor de venda do carro. Assim, o proprietário de um veículo de R$ 50 mil registrado no Estado deve pagar cerca de R$ 2 mil de imposto. Os percentuais variam de acordo com o Estado e, no caso do IPTU, com o município.
O trabalhador pode utilizar uma planilha para estimar os gastos sazonais do próximo ano. Com todos os valores somados, fica mais fácil calcular quanto deve ser reservado mensalmente ao longo do ano.
Além disso, essa reserva específica permite ao consumidor negociar condições melhores com seguradoras, como descontos no seguro do carro, já que o pagamento à vista costuma gerar preços mais baixos.
Gastos de fim de ano podem comprometer o orçamento do ano seguinte
Segundo Feldberg, o planejamento do ano seguinte começa em novembro, quando o comércio impulsiona promoções como a Black Friday. Em dezembro, entram gastos com festas, ceias e presentes. É justamente nesse período que muitos consumidores se endividam.
“Essas compras parceladas no final do ano já tendem a comprometer grande parte do ano seguinte. Tem muita gente que nem começou 2026 e já está com o primeiro semestre inteiro comprometido com parcela, boleto e coisas que comprou”, detalha. “Com certeza, organizar as contas de janeiro reduz o endividamento ao longo do ano. Mas não só as de janeiro: as de agora. Normalmente é em dezembro que a gente gasta muito, e em janeiro temos muitos compromissos para pagar.”
O criador do canal “Primo Pobre” também recomenda que os consumidores estabeleçam prioridades de longo prazo. Objetivos como comprar uma casa, trocar de carro ou quitar dívidas exigem escolhas.
“É muito importante para a pessoa que quer mudar de vida ter uma prioridade. Isso envolve falar ‘não’ para várias coisas e ‘sim’ para uma, que é a mais importante”, diz o especialista. “Se a pessoa viveu um ano muito difícil, ela precisa decidir: quer que o próximo ano seja igual? Ou quer quitar as dívidas e mudar sua realidade?”
Matéria: Gazeta do Povo





