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Como “nova Doutrina Monroe” de Trump pode afetar o Brasil

Os Estados Unidos divulgaram uma nova Estratégia Nacional de Segurança (ENS), considerada uma “reinvenção” do presidente Donald Trump para a Doutrina Monroe, que pode mudar o rumo da relação com o Brasil em áreas sensíveis.

O foco da agenda externa americana deixa de estar na Europa e no Oriente Médio e se reorienta para a América Latina e seus problemas, como o crime organizado, o narcotráfico e a imigração ilegal.

Essa mudança radical de estratégia sinaliza que Washington concentrará seus recursos políticos, militares e diplomáticos ao redor de casa e o Brasil surge como um possível alvo de intervenções.

Em 2 de dezembro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou a telefonar para Trump, sugerindo que estava disposto a colaborar com a Casa Branca em relação às ações de combate ao crime organizado.

Na ocasião, o petista pediu “ajuda” para prender quem ele chamou de o “maior devedor do país”, uma referência indireta ao empresário Ricardo Magro, que vive atualmente em Miami.

“Liguei para o presidente Trump e disse que se ele quisesse lidar com o crime organizado, estávamos disponíveis. E nesse mesmo dia lhe enviei uma proposta sobre o que queríamos fazer. Eu também lhe disse que um dos grandes chefes do crime organizado brasileiro, que é o maior devedor deste país e também importador de combustíveis, mora em Miami. Então, se ele quer nos ajudar, vamos ajudá-lo parando-o imediatamente”, disse Lula.

Ao mesmo tempo, também este mês, Lula conversou secretamente com o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, um contato que não foi divulgado pelo governo. Os dois trataram sobre o aumento das tensões na região, com a escalada das ações militares dos Estados Unidos perto da Venezuela.

Até o momento, o Brasil se recusou a designar as principais organizações criminosas presentes no país, o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), como grupos terroristas, algo a que países vizinhos como Argentina e Paraguai se propuseram desde a operação no Rio de Janeiro.

Possivelmente, a decisão do governo brasileiro de não realizar a designação tenha como finalidade evitar possíveis intervenções dos Estados Unidos em nome da luta contra o narcotráfico, como é esperado na Venezuela, desde que Trump passou a considerar o regime de Nicolás Maduro um alvo terrorista devido a ligações com o tráfico de drogas transnacional.

No entanto, o efeito dessa recusa pode ser o contrário. Segundo o coronel da reserva e analista militar Paulo Roberto da Silva Gomes Filho, colunista da Gazeta do Povo, “ao colocar a América Latina como foco principal do interesse estratégico norte-americano, criando o ‘Corolário Trump’ à Doutrina Monroe, os Estados Unidos explicitam que toda a região, inclusive o Brasil, são fundamentais para a segurança do país”.

“Dessa forma, eles se reservam o direito de intervir diretamente — inclusive com o uso da força — para impedir ameaças à segurança dos Estados Unidos provenientes dos países da região, como o tráfico de drogas, redes de imigração ilegal e terrorismo”, disse Gomes Filho.

Mas a nova estratégia de segurança americana não terá apenas como foco o crime organizado. A Casa Branca deve monitorar de perto as investidas da China na região por meio de acordos políticos, investimentos em tecnologia, energia e infraestrutura, acesso a minerais estratégicos e terras raras, setor no qual o Brasil possui 23% das reservas mundiais.

Gomes Filho pontuou que o “Corolário Trump” rejeita a presença militar, a influência estratégica ou o controle de infraestrutura crítica no hemisfério por qualquer potência extra-hemisférica.

“Isso claramente faz referência à China, o que permite prever que as relações – governamentais ou privadas – de brasileiros com a China serão avaliadas pelos Estados Unidos sob o prisma dos interesses, não do Brasil, mas dos Estados Unidos”, afirmou.

Adriana Melo, especialista em finanças e tributação, destacou que Trump trouxe uma versão mais sofisticada da Doutrina Monroe para 2025. “O novo inimigo não é apenas o cartel ou o imigrante, mas qualquer ator não hemisférico que se infiltre em portos, infraestrutura crítica, cadeias produtivas ou governos da região”, disse.

Segundo Melo, com a nova política, “fechar a porta” para a China vira pré-requisito: “Aceitar contratos sem concorrência, os chamados sole source contracts, com empresas americanas passa a fazer parte do pacote. Aqui, ‘cooperação’ funciona como instrumento de contenção”.

Na visão de Igor Lucena, economista e doutor em relações internacionais, antes de tomar medidas contra o Brasil, o governo Trump teria como foco países que não são reconhecidos por uma gestão democrática, como Venezuela, Nicarágua e Cuba.

Para o analista, Trump deve, pelo contrário, buscar uma proximidade com o Brasil para chegar a acordos em demandas importantes para o mercado americano, como o de minerais.

“O governo americano, porém, será muito reticente com países da América Latina que continuam a firmar parcerias com a Rússia e o Irã, por exemplo. E acho que aí reside o grande problema do Brasil: o país tem se aproximado demais de nações não democráticas, que se colocam em oposição aos Estados Unidos. Isso pode gerar algumas rusgas e talvez diminuir a capacidade de influência do Brasil na América Latina – até porque os Estados Unidos já elegeram Argentina e Paraguai como seus principais aliados na região”, avaliou Lucena.

Essa nova pressão da Casa Branca transmitida por meio do documento deve gerar efeitos na atual tentativa de negociação do governo Lula com a Casa Branca.

Nas ocasiões em que conversaram, o petista tentou reverter o tarifaço de 50% sobre importações brasileiras e as sanções contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Em novembro, devido à inflação dos alimentos nos EUA, Trump retirou as tarifas sobre vários produtos agrícolas brasileiros, mas, segundo o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, 22% das exportações brasileiras para os Estados Unidos ainda estão sujeitas às sobretaxas.

Na sexta-feira (12), o governo dos Estados Unidos retirou o ministro Alexandre de Moraes e sua esposa, Viviane Barci, da lista de sancionados da Lei Magnitsky, alegando que “a designação contínua é inconsistente com os interesses da política externa dos EUA” e elogiando o PL da dosimetria. 

No dia anterior, o subsecretário de Estado americano, Christopher Landau, já havia elogiado indiretamente a medida aprovada pela Câmara dos Deputados, que deve reduzir drasticamente a pena do ex-presidente Jair Bolsonaro e condenados pelo 8 de janeiro. A matéria ainda precisa passar no Senado.

Matéria: Gazeta do Povo

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Gabriel de Melo

Criador, fundador e locutor da Rádio Esperança e também do Blog Palavra de Esperança, tem como objetivo divulgar o evangelho de Cristo par outras pessoas através da Internet por meio dos louvores e da palavra de Deus nas mídias sociais.

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