Problema do Brasil não é falta de talento mas excesso de Estado

Volto de Seattle depois de uma imersão em mais de quinze empresas de tecnologia, inovação e gestão. Lá, vi de perto o que realmente diferencia as nações que prosperam: a mentalidade. Nos Estados Unidos, a sociedade gira em torno da liberdade e da responsabilidade individual. O Estado existe para servir, não para mandar. As pessoas acreditam que o sucesso é resultado do esforço, e não do favor de alguém. Aqui, infelizmente, seguimos presos à crença de que o Estado é o motor do progresso, quando, na verdade, ele é o principal freio.
Ao discutir narrativas, o verdadeiro poder continua nas mãos das elites políticas e burocráticas, que vivem da máquina pública e se perpetuam explorando a dependência da população. São essas elites que mantêm uma educação ineficiente, uma estrutura de privilégios e uma cultura de submissão disfarçada de proteção social. Não há interesse em libertar o cidadão, porque um povo autônomo pensa, decide e cobra – e isso ameaça quem vive do poder.
O Brasil precisa de menos Estado e mais protagonismo individual. Precisamos abandonar a ilusão do governo protetor e adotar o modelo do cidadão livre. Um Estado pequeno, eficiente e transparente é o que garante o ambiente para que a sociedade floresça
Nos Estados Unidos, cada ambiente que visitei mostrava o oposto: profissionais incentivados a empreender, errar, corrigir e tentar de novo. A formação é voltada para a autonomia. Aqui, o ensino ainda é usado como instrumento político. Gasta-se muito e ensina-se pouco. Enquanto isso, o país desperdiça gerações inteiras que poderiam estar construindo o futuro – se não fossem moldadas para depender de promessas.
O mesmo contraste se repete na economia. Lá, o empreendedor é celebrado como herói nacional. Aqui, é tratado como vilão. O empresário americano é respeitado por gerar empregos e inovação. No Brasil, ele é sufocado por impostos, regulações e uma burocracia que o pune por tentar crescer. É o retrato de um país que ainda não entendeu que empreender é o ato mais nobre de inclusão social. Nenhum programa estatal gera tanta dignidade quanto um emprego criado por quem acredita no próprio esforço.
As elites políticas brasileiras prosperam com a dependência. Quanto mais o cidadão precisa do Estado, mais poder elas acumulam. O assistencialismo virou moeda de troca eleitoral, e a retórica da “proteção social” serve para travar a autonomia do indivíduo. O discurso da desigualdade é conveniente para quem quer manter o povo no mesmo lugar. É um ciclo vicioso: cria-se a necessidade para vender a solução.
A diferença é que, em países como os Estados Unidos, o mérito é visto como justiça. Aqui, ainda o confundem com privilégio. O mérito não é uma ideologia – é um valor moral. É o reconhecimento de que cada pessoa deve colher o fruto do próprio esforço. Uma nação só progride quando recompensa quem trabalha, estuda e entrega resultados. Não existe liberdade sem mérito, nem prosperidade sem responsabilidade.
O que vi em Seattle reforça minha convicção de que o Brasil precisa de menos Estado e mais protagonismo individual. Precisamos abandonar a ilusão do governo protetor e adotar o modelo do cidadão livre. Um Estado pequeno, eficiente e transparente é o que garante o ambiente para que a sociedade floresça. Tudo o que ultrapassa isso vira desperdício, corrupção e controle.
Enquanto o brasileiro se distrai com novelas, redes sociais, escândalos políticos e a busca incessante por culpados, as elites políticas continuam administrando o país como um feudo. Mantêm seus privilégios, criam cargos, multiplicam impostos e travam quem produz. O futuro do Brasil não depende de mais leis, subsídios ou discursos, mas de uma mudança de mentalidade. Precisamos parar de olhar para Brasília e começar a olhar para nós mesmos. A transformação não virá de um novo programa, mas do despertar de um novo comportamento: o da liberdade com responsabilidade, do trabalho com propósito e da confiança como valor essencial.
Enquanto o brasileiro acreditar que o Estado é quem deve resolver seus problemas, permaneceremos estagnados. Mas, quando cada um assumir o comando da própria vida – estudando, empreendendo, produzindo –, o país finalmente dará o salto que tanto prometeu e nunca cumpriu. O Brasil que precisamos construir começa em cada um de nós.
Luis Wulff, CEO do Tax Group, Banco Fiscal e Dr. Fiscal, é mestre em Direito Tributário pela FGV-SP, especialista em gestão e liderança, professor e palestrante.
Matéria: Gazeta do Povo





