Produtores de leite protestam e cobram medidas para conter crise

Após reunir mais de 300 produtores de leite em frente à Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), a mobilização em defesa da cadeia leiteira continua em Curitiba. O ato, organizado pela Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores Familiares do Paraná (Fetaep), cobra que medidas sejam tomadas para conter a crise enfrentada pelos pequenos produtores, afetados pela queda nos preços e pela concorrência com o leite importado.
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Durante a audiência pública, realizada na última terça-feira (21), o presidente da Fetaep, Alexandre Leal dos Santos, apresentou aos deputados estaduais as principais reivindicações do setor. “A mobilização foi muito positiva, e muitos parlamentares se colocaram em defesa da pauta dos agricultores familiares”, afirmou. Entre os pontos debatidos, o principal é a proibição da reidratação do leite em pó importado, prática que, segundo os produtores, distorce o mercado e derruba o preço pago pelo leite fluido nacional.
Projeto de lei e criação de grupo intersecretarial
A audiência resultou em dois encaminhamentos imediatos. O primeiro é o avanço do projeto de lei 888/23, de autoria do deputado estadual Luis Corti (PSB), que prevê a proibição da reidratação do leite importado no Paraná. O presidente da Alep, Alexandre Curi (PSD), anunciou que o texto deve ser votado em caráter de urgência e sancionado pelo governador Ratinho Junior. “Esse projeto vai ajudar os agricultores no primeiro momento, mas as articulações não podem parar por aí”, cobrou o presidente da Fetaep.
O segundo resultado foi o compromisso do governo estadual de criar um grupo intersecretarial para acompanhar as demandas da cadeia produtiva. O colegiado reunirá representantes da agricultura, fazenda e indústria, além de entidades e cooperativas. “O objetivo é olhar para o leite como um todo, da produção à comercialização, e garantir condições justas de concorrência”, explicou Santos.
A entidade também vem atuando em Brasília, em parceria com a Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag). Na quarta-feira (22), representantes das federações do Sul se reuniram com o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, para reforçar a necessidade de medidas federais que restrinjam as importações desreguladas.
Crise se agrava com leite importado e margens do varejo
O cenário preocupa os produtores de leite do Paraná. Em algumas regiões, o litro está sendo pago a menos de R$ 2,00, valor que, segundo a Fetaep, “faz o pequeno agricultor pagar para trabalhar”. Enquanto isso, o preço nas gôndolas segue praticamente inalterado. A entidade cobra uma regulamentação sobre a margem de lucro do varejo e mais fiscalização federal sobre o leite em pó importado, que entra no país com exigências sanitárias menores do que as impostas ao produto brasileiro.
No Paraná, 86% das 110 mil propriedades produtoras de leite pertencem à agricultura familiar. Em 2024, o estado produziu 4,6 bilhões de litros, com valor bruto de produção superior a R$ 12,1 bilhões, ficando atrás apenas de Minas Gerais. O leite é, portanto, uma das principais fontes de renda e de fixação das famílias no campo.
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Após o ato, a Fetaep planeja promover encontros regionais com agricultores e federações do Sul para monitorar os desdobramentos do debate e preparar novas ações conjuntas. “Seguiremos mobilizados e cobrando os compromissos assumidos. Dentro de 20 dias, teremos um relatório com as medidas do governo federal em defesa dos produtores de leite brasileiros”, disse Santos.
Entre as propostas em andamento, está também a criação de uma Comissão Permanente da Cadeia do Leite, que deve reunir representantes de governos, entidades e do setor produtivo. O objetivo é manter o tema em debate contínuo e assegurar políticas públicas que valorizem o trabalho de quem produz. “É preciso averiguar onde está o gargalo e por que a corda sempre arrebenta no lado do mais fraco, o produtor. Enquanto o leite importado avança, o agricultor familiar segue desamparado”, critica o presidente da Fetaep.
Matéria: Gazeta do Povo




