
Na coluna anterior, explicamos a hierarquia e o foco das políticas norte-americanas para o mundo, suas prioridades e o que há por trás de cada ação ou sanção. Dando continuidade ao assunto, precisamos considerar quais são as grandes forças internacionais: quem são os globalistas, os stalinistas, os líderes dos BRICS, quais são os países soberanistas e quem são os países vassalos dos BRICS ou dos globalistas.
Essa análise é importante para determinar outra vertente que influencia tudo o que está acontecendo, de acordo com o mapa que reproduzo abaixo:
Nesse contexto e no atual governo, em vez de fazer uma transição para país soberano, o Brasil está prestes a deixar de ser um país vassalo dos globalistas — todas as instituições estão contaminadas por agendas impostas por interesses internacionais desse espectro político — para se tornar vassalo dos stalinistas.
Lacaio por opção
É esse processo de vassalagem que o presidente Donald Trump quer evitar: tanto que o Brasil caia nas mãos dos globalistas quanto dos países stalinistas líderes dos BRICS. É arriscado o Brasil voltar a se submeter aos globalistas? Sim, mas é um risco menor diante de se tornar lacaio dos stalinistas.
E por quê? Tanto globalistas quanto stalinistas incluem em suas agendas acabar com a hegemonia norte-americana — são forças antiamericanas, antiocidentais e, portanto, iguais nesse sentido —, só que ambas representam interesses diferentes e até conflitantes. Por isso, vivem em constantes disputas, seja pelo controle de ativos ou de territórios.
Veja o conflito da Ucrânia, por exemplo: os globalistas rearmaram a Europa para não deixar morrer o confronto com a Rússia. Em jogo está o controle não somente do território ucraniano, mas também do escoamento da produção russa de minérios, alimentos e tecnologia, que rivaliza com o que os globalistas já controlam.
Nesse jogo de adultos, o Brasil virou uma bola de pingue-pongue. Como país soberano, os Estados Unidos querem fazer de tudo para que o Brasil não fique pulando de um lado para o outro, mas ainda não estão traçando um caminho para que o país se torne também soberano, como é o caso dos próprios Estados Unidos ou de Israel.
Desconfiança com o Brasil
Na verdade, os EUA sabem que o Brasil não quer ser soberano, porque consideram suas instituições corruptas, fracas e sem visão independente. O Brasil, na visão dos EUA, sempre será influenciável pelos inimigos.
Além disso, nosso histórico com os Estados Unidos não ajuda: Getúlio Vargas fez aliança com os países do Eixo, Jânio condecorou Che Guevara, Jango pretendia fazer reformas de base comunistas, e o governo Lula, nos últimos 20 anos, sempre se posicionou como antiamericano.
Tudo isso indica que o Brasil talvez nunca tenha sido um grande aliado dos Estados Unidos, apenas um pseudo-rival, sobretudo após o golpe da República. Pensávamos que os EUA eram nossos rivais, mas eles nem prestavam atenção ao Brasil, e, nesse período, acreditávamos ser a maior potência das galáxias dos últimos 100 anos.
Cadê a nossa soberania, então?
Para responder a essa questão de forma produtiva, precisamos evitar nos definir pela estratégia de interesses de qualquer bloco de países. Nossa soberania deve vir da projeção da nossa vontade, que deveria estar refletida e manifesta em nossas instituições, atualmente fechadas à vontade popular.
Se a voz da opinião pública fosse ouvida e refletida nessas instâncias, certamente os Estados Unidos seriam muito mais sensíveis e otimistas, e estabeleceria uma relação mais altiva e enobrecedora com o Brasil.
Todavia, como temos um sistema fechado, que ignora a população e é capturado por todos os interesses de corruptores nacionais e internacionais, isso gera desconfiança nas instituições por parte de sucessivos governos norte-americanos.
Por não haver consenso interno, o Brasil ainda não assumiu uma linha de país soberano, de fato independente tanto dos globalistas quanto dos stalinistas.
A imagem que prevalece é de que o Brasil não é confiável porque pode mudar de lado muito rapidamente, como já fez várias vezes ao longo da história das diferentes repúblicas que teve
O país, por não ter uma agenda comum e aceita pela sociedade como valor de base, faz com que os EUA não consigam definir qual é o compromisso do brasileiro com qualquer coisa.
Portanto, esse é um ponto fundamental: somos um país que sequer sinalizou uma saída soberana que inspire confiança àqueles países que poderiam nos ajudar a conquistar nossa soberania.
Ainda uma bola de pingue-pongue
De qualquer maneira, é importante entender esse conjunto de forças. Diante do exposto, a intervenção dos Estados Unidos para evitar que o país caia numa piora do modelo político e econômico — o que certamente terá um grande impacto social — não pode ser vista como negativa.
É claro que todas as medidas servem aos interesses norte-americanos, e não é o caso de eles quererem fazer do Brasil um país maravilhoso. Eles têm interesse em defender seus próprios interesses. No entanto, nesse processo, os EUA podem trazer algum benefício ao Brasil e aos brasileiros porque isso evita que o país “saia da frigideira e caia no fogo”.
Qualquer intervenção que venha dos EUA será limitada a evitar um mal maior. No entanto, a questão da soberania, no rescaldo desse embate, só virá como resultado de um sério, profundo e amplo movimento de resgate nacional. Como ele ainda não se organizou, devemos resignar nossa esperança à sobrevivência, para termos essa oportunidade no futuro.
Matéria: Gazeta do Povo





