48 segundos para as explicações dos “supremos”

Não tem essa conversa de 48 horas para dar explicações. Nem 48 minutos. Seremos benevolentes, ainda que vocês não mereçam… Toffoli, Moraes e Gilmar, prestem atenção, vocês têm 48 segundos para esclarecer questões importantes. É tempo mais do que suficiente para não explicar o inexplicável, o absurdo, o ultraje. É tempo mais do que suficiente para deixar claro que a cara de pau de vocês é ilimitada, para reforçar que vocês se acham mesmo acima do bem e do mal, acima das leis, e não estão nem aí para ninguém. É só um tempo pró-forma, alguns segundos para cumprir uma etapa dispensável, desnecessária, já que não há salvação para vocês, já que não há nem aparências a salvar.
Dias Toffoli, o cronômetro será disparado ao fim deste parágrafo. Tente explicar em poucas palavras como foi o seu encontro num jato particular com um advogado do Banco Master… Por que, logo depois dessa viagem, sua decisão foi que só você poderia autorizar qualquer nova medida relacionada às fraudes do banco, como operações de busca e apreensão e quebra de sigilo de alvos da apuração? Por que você travou o avanço do trabalho feito pela Justiça Federal de Brasília? Já não bastava decretar sigilo máximo sobre o caso, era preciso interromper, por exemplo, as perícias nos celulares e computadores apreendidos? E a Procuradoria-Geral da República? Você não quer a opinião da PGR, isso não faz parte do rito processual?
Vamos sair por aí gritando que não há solução para o país, se ministros do Supremo continuarem destruindo tudo o que veem pela frente, e atrás, e dos lados, principalmente o direito
Moraes, prepare-se para não elucidar nada e, como sempre, ainda fingir que você está certo… Por que não foi dado à sua mulher o prazo de 48 horas para que ela explicasse o contrato de R$ 129 milhões entre o Banco Master e o escritório Barci de Moraes? O que você acha das declarações de advogados de escritórios renomados de que se trata do maior contrato já firmado por uma banca de advocacia no país? Como podemos interpretar que o pagamento mensal de R$ 3,6 milhões ao escritório da sua mulher fosse prioridade absoluta para um banco que já enfrentava grave situação financeira? Você, Moraes, que fala sobre tudo, não vai comentar o caso? Por alguns segundos apenas, 48, para ser exato. Seu silêncio já nos indica que não há muito a dizer mesmo.
Gilmar, não vou nem perguntar do escritório de advocacia da sua querida “ex-mulher”, do seu instituto… Você tem 48 segundos para dizer apenas se vai ou não rasgar de vez a Constituição, a lei do impeachment… Fale também do beija-mão de senadores na Trattoria da Rosário, em Brasília, na última quarta-feira… Você se sente bem, esparramado entre um bando de senadores abjetos? Você não acha que ainda é válida a punição de ministro do Supremo que tem atuação político-partidária? Na sua opinião, não é melhor fechar logo o Congresso? Como você se sente sendo um caduco, um ser teratológico, um juizeco perdido buscando blindagem? Gagueje à vontade, tropece solenemente, abandone os gerúndios… Os segundos correrão da mesma forma, sem que haja defesa possível para seus atos insanos.
A nós, brasileiros de verdade, cada segundo importa. Não há tempo a perder, nunca houve. Vamos sair por aí gritando que não há solução para o país, se ministros do Supremo continuarem destruindo tudo o que veem pela frente, e atrás, e dos lados, principalmente o direito… Vamos protestar incansavelmente, mesmo que isso pareça improdutivo. Vamos para cima principalmente dos senadores, os pulhas que nos entregaram como reféns da safadeza, da patifaria, da devassidão. Vamos abandonar a imprensa que não tem compromisso com a busca da verdade e contar com o apoio dos jornalistas reais. São esses que não se renderam, não se venderam. Esses que entenderam que agora não basta o compromisso com a apuração dos fatos, as perguntas, a curiosidade, a desconfiança… Triste do país em que um jornalista, simplesmente para exercer sua profissão, precisa ter coragem.
Matéria: Gazeta do Povo





