A cerimônia de entrega do Prêmio Nobel da Paz concedido a María Corina Machado foi cancelada. Os organizadores alegaram que esta edição do prêmio “não está alinhada com os valores da instituição”.
A decisão foi anunciada pelo Conselho da Paz, responsável pela solenidade de celebração dos ganhadores do Nobel. María Corina não deixará de ser a ganhadora do prêmio, conforme escolha feita pelo Comitê Norueguês do Nobel — órgão oficial responsável pela concessão da láurea.
Já o Conselho da Paz, formado por “17 organizações independentes”, segundo o jornal O Globo, decidiu que Corina não merecerá a cerimônia de consagração pelo prêmio.
María Corina Machado é a principal opositora da ditadura de Nicolás Maduro, um regime baseado na perseguição e na violência. Será que, para os ilustres conselheiros, a violência é o novo ingrediente da paz?
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“Esta é uma decisão difícil, mas necessária”, afirmou Eline H. Lorentzen, presidente do Conselho da Paz. “Temos grande respeito pelo Comitê do Nobel e pelo Prêmio Nobel da Paz como instituição. Mas, como organização, também devemos ser fiéis aos nossos próprios princípios e ao amplo movimento pela paz que representamos”, disse Lorentzen, em citação publicada pela CNN Brasil.
Ela acrescentou: “Estamos ansiosos para celebrar o Nobel da Paz novamente nos próximos anos.”
Dá para imaginar o tamanho da ansiedade. Com certeza, será um prazer para eles voltarem a celebrar o prêmio — desde que não ofenda nenhum ditador amigo. O “amplo movimento pela paz” não tem espaço para quem defenda os venezuelanos trucidados pelo chavismo. Seria uma paz com asterisco? Ou um movimento tão amplo que tenha espaço até para fraudadores de eleição?
A presidente do Conselho da Paz garantiu que a instituição continuará zelando pela paz, pelo desarmamento, pelo diálogo e pela resolução de conflitos por meios não violentos. Ué? María Corina Machado enfrenta há anos o armamento pesado de Maduro com a palavra. Será que o Conselho da Paz passou a considerar, neste ano, o verbo como um meio violento?
Para fazer um comunicado assim, seria melhor declarar simplesmente: “A gente não quer porque não quer” condecorar María Corina. Ponto final.
A ditadura venezuelana tem um punhado de amigos famosos, como o músico Roger Waters. O ex-integrante do Pink Floyd, que se diz pacifista, gravou um vídeo tenebroso após o anúncio do Nobel da Paz deste ano. Ele ruge palavras grosseiras contra María Corina, destilando um ódio ostensivo e ameaçador que ficaria pesado como trilha de Halloween. Waters e os conselheiros da paz não devem ter nenhum parente entre as centenas de reféns de Nicolás Maduro.
Corina dedicou seu prêmio aos venezuelanos que sofrem nas garras da ditadura e ao presidente dos EUA, Donald Trump — que decidiu confrontar o regime de Maduro. Já que é para boicotar, o Conselho da Paz poderia ser mais eloquente. Por que não vão todos para a Venezuela lutar ao lado de Maduro? Coragem, pacifistas!
Matéria: Gazeta do Povo
