Que outro britânico salve o Uruguai do precipício moral

A história do Uruguai sempre foi marcada por uma intensa disputa. Se, nos séculos XVI e XVII, portugueses e espanhóis rivalizavam pela conquista do território da faixa a leste do rio Uruguai, no início do século XIX, brasileiros e argentinos seguiram a herança de seus colonizadores e também disputaram a região, que finalmente recebeu sua independência com o Tratado de Montevidéu, em 1828, após a Guerra da Cisplatina.
Embora o mérito desta conquista recaia sobre o herói nacional José Artigas, o auxílio do inglês George Canning, então chefe do Ministério do Exterior Britânico, também foi essencial para que o país pudesse reencontrar-se para seguir em frente.
Entretanto, parece que os quase dois séculos de emancipação não foram o bastante para que o país alcançasse a maturidade e empreendesse a função básica de uma pátria, que é justamente a de cuidar e proteger seus nacionais.
Já em 2012, tragicamente, o país deu início ao comportamento autodestrutivo com a legalização do aborto. A vida de bebês com até 12 semanas passou a ser uma incógnita, dependente apenas do desejo daquela que os estava gestando: se quero, vive; se não quero, morre.
Interessante aqui é que as ONGs e os grupos pró-legalização argumentavam que ocorria uma média de 33 mil abortos por ano naquele país e, no primeiro ano de legalização, os registros oficiais apontaram por volta de 6.500 abortos, demonstrando que os números evidentemente eram superestimados apenas para conseguir a legalização do homicídio de seus cidadãos ainda no útero de suas mães.
Em dezembro do ano seguinte, foi a vez de o país implementar a legalização do uso “recreativo” da cannabis. Sob a falácia de que a regularização do comércio da droga diminuiria a criminalidade, o país deixou de proteger a saúde de sua população, contrariando, mais uma vez, sua função primordial.
Sob esse aspecto, uma observação importante feita à BBC pela cientista política Rosario Queirolo, professora da Universidade Católica do Uruguai, afirmou que, mesmo regulamentando o uso da maconha, as taxas de homicídio e os índices de assalto continuaram crescendo no país.
Entretanto, agora, em outubro deste ano, o fundo do poço: os senadores do Uruguai sancionaram a lei intitulada “Morte Digna. Regulação”, legalizando a eutanásia. Segundo a norma, a eutanásia é um direito do cidadão, e os motivos para se tomar essa decisão não necessitam estar atrelados a um estado de saúde terminal, exigindo apenas que as condições de saúde sejam “irreversíveis”, sem necessidade de avaliação psiquiátrica, psicológica ou algo do gênero.
Critérios vagos e arriscados ameaçam a vida dos cidadãos uruguaios que se encontram na situação mais frágil de suas vidas, pois, em vez do dever de cuidado, receberão a rápida solução de serem descartados pelo Estado, sem nem mesmo terem sido tentadas outras medidas e recursos de tratamento paliativo.
Em momentos de intensa vulnerabilidade, pessoas que estão sofrendo e, consequentemente, não podem tomar uma decisão livre poderão se submeter a um procedimento irreversível, cujos trâmites podem durar menos de cinco dias.
Economicamente, a eutanásia é perfeita: deixa-se de gastar enormes quantias em UTIs, dando logo um fim àqueles que não produzem mais nada para a sociedade, só atrapalham. Eufemisticamente denominada suicídio assistido, ela é o utilitarismo levado às últimas consequências, sendo que há gente que ainda bate palmas para isso.
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No entanto, se em 1828 um inglês ajudou a formar a República Oriental do Uruguai, hoje outro britânico pode ajudar a orientar os rumos dessa nação.
Muitos ainda não o conhecem, mas há um pensador inglês que sempre usava aparentes contradições em seus textos, com o intuito de nos gerar uma perplexidade inicial para, depois, chegarmos à conclusão de que sua ideia realmente fazia sentido. Ele era chamado de príncipe do paradoxo.
Mesmo tendo nascido em 1874, G. K. Chesterton está mais atual do que nunca, e uma máxima que podemos tirar de seus escritos e que se encaixa perfeitamente na realidade de nossos vizinhos é a de que “na beira de um precipício, só há uma maneira de seguir adiante: dar um passo atrás”.
Ao que consta, para nossos vizinhos uruguaios, mais especificamente, três seriam os passos para trás que os salvariam do abismo.
Que Deus os ajude e que os ensinamentos deste outro britânico os orientem para saírem, o quanto antes, da beira do precipício.
Matéria: Gazeta do Povo





