Ouça nossa programação ao vivo 24h!

Clique aqui
Últimas notícias

As nações na perspectiva das Escrituras

A Escritura fala das nações com uma riqueza que desafia nossas categorias e definições modernas. Longe de figurarem apenas como cenários geopolíticos indiferentes, as nações emergem no texto bíblico como parte de um drama maior, no qual a história humana e o propósito divino se entrelaçam. É nesse ponto de encontro, entre a revelação de Deus e a experiência dos povos, que procuro enxergar as nações a partir do ensino bíblico e deixando que a própria Palavra molde nosso entendimento. O resultado é um panorama surpreendente, em que identidade, missão e destino se iluminam sob uma luz que somente a revelação pode oferecer.

O que é uma nação na Escritura

Na Escritura, uma nação (hebraico goy, grego ethnos) é um povo unido por ancestralidade, língua, cultura e, muitas vezes, território. Sua origem remonta a Gênesis 10–11, quando, após o Dilúvio, os descendentes de Noé se desdobram em diferentes povos: “Estas são as gerações dos filhos de Noé: Sem, Cam e Jafé…” (Gn 10,1). A formação das nações não é apenas um processo social, mas uma obra dirigida pela providência divina.

A intervenção de Deus na Torre de Babel (Gn 11), confundindo as línguas e dispersando a humanidade, revela que Ele mesmo limita o orgulho humano e estabelece a diversidade dos povos conforme sua sabedoria. As nações surgem, portanto, como parte da ordem criada por Deus, com identidades e fronteiras que Ele governa soberanamente: “De um só fez toda a raça humana… determinando-lhes os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação” (At 17,26).

O Estado de Israel, estabelecido em 1948, não corresponde plenamente ao modelo bíblico, mas se harmoniza com ele em um ponto essencial: a reunião do povo judeu em sua terra ancestral

Essa visão bíblica mostra que Deus trata as nações como realidades concretas dentro de Seu propósito soberano e reafirma que Israel ocupa um papel único entre elas, não como anomalia, mas como o povo escolhido por Deus para servir de instrumento de bênção para todas as famílias da terra.

O conceito bíblico e os conceitos modernos de nação e Estado

O conceito bíblico de “nação” é muito diferente do modelo moderno. Hoje, falamos em “Estado-nação” para descrever uma estrutura política com fronteiras definidas, governo centralizado, soberania jurídica e cidadania regulada. Esta é uma construção relativamente recente, surgida a partir do Iluminismo e consolidada após Westfália (1648). É, em grande parte, um projeto secular, baseado em contratos sociais e em princípios como autonomia individual, democracia e pluralismo cultural, frequentemente desvinculado de etnia, tradição ou fé.

Nas Escrituras, porém, a ideia de nação é orgânica e teocêntrica: um povo unido por ancestralidade, língua, cultura e responsabilidade diante de Deus. Israel exemplifica essa realidade como povo formado e preservado por uma aliança divina (Gn 12,1-3; Dt 7,6-8), cuja identidade decorre da eleição graciosa do Senhor, e não de critérios políticos humanos. Enquanto os Estados modernos tendem a adotar uma visão antropocêntrica que frequentemente dilui identidades históricas, a Bíblia apresenta as nações como distintas ao longo de toda a história – e ainda presentes no louvor escatológico (Ap 7,9).

O Estado de Israel, estabelecido em 1948, não corresponde plenamente ao modelo bíblico, mas se harmoniza com ele em um ponto essencial: a reunião do povo judeu em sua terra ancestral. Esse retorno, já antecipado por profetas como Ezequiel (37,21-22), constitui um marco significativo na preservação da identidade nacional de Israel e na continuidade histórica da promessa divina.

O lugar das nações nas Escrituras

As Escrituras atribuem às nações um papel contínuo e significativo, desde a criação até o desfecho da história. Elas surgem pela vontade de Deus (Gn 10), são avaliadas e disciplinadas por Ele (Sl 2; Is 13–23), e são convidadas à redenção por meio de Cristo, que ordena que o Evangelho alcance “todas as nações” (Mt 28,19; At 1,8). No Antigo Testamento, as nações aparecem tanto como instrumentos de juízo, como a Assíria em Isaías 10, quanto como canais de bênção, como ocorre com Moabe no livro de Rute. No Novo Testamento, tornam-se alvo direto da missão divina.

A Bíblia apresenta as nações dentro de um quadro de soberania divina que preserva suas distinções, inclusive no estado final (Ap 21,24-26). Longe de apoiar a dissolução das identidades nacionais, a Escritura antevê uma harmonia sob o governo do Messias, em que os povos mantêm suas peculiaridades enquanto caminham para a luz de Deus (Mq 4,2-3). Nesse panorama, Israel permanece em posição singular, descrito como o “umbigo da terra” (el-tabbur ha’aretz, Ez 38,12), ponto de referência em torno do qual as demais nações são chamadas a se orientar.

Deus avalia as nações pela forma como tratam o povo que Ele escolheu, conclamando-as a abençoar Israel (Gn 12,3) e a respeitar a eleição divina

A relação das nações com Israel

A relação entre as nações e Israel é apresentada nas Escrituras como profundamente moral e espiritual. Deus declara a Abraão: “Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem” (Gn 12,3), estabelecendo um princípio que atravessa toda a história bíblica. Israel é separado para manifestar o caráter do Senhor aos povos (Êx 19,5-6) e chamado a ser luz para as nações (Is 42,6). Por isso, a oposição a Israel é tratada como afronta ao próprio Deus (Jl 3,1-2; Zc 12,3), enquanto a disposição de honrar e proteger esse povo é descrita como caminho de prosperidade (Is 60,12).

A aliança de Deus com Israel permanece válida, pois “os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis” (Rm 11,29). A Escritura não ensina que a Igreja substituiu Israel; ao contrário, mostra uma continuidade viva, em que Deus reúne um só povo sem eliminar a identidade e a vocação particular do povo judeu. O retorno de Israel à sua terra, desde 1948, pode ser visto como expressão da providência divina, ecoando promessas como Amós 9,14-15 e preparando o cenário para o cumprimento final da fidelidade de Deus. Diante disso, as nações são chamadas a reconhecer o lugar singular de Israel no propósito divino e a alinhar-se àquilo que o Senhor consagrou como Sua herança – pois resistir a isso é colocar-se contra o próprio movimento da história guiada por Deus.

O futuro da nação e da terra de Israel

O futuro de Israel, segundo as Escrituras, está ancorado na fidelidade de Deus às promessas que Ele jurou cumprir. Ezequiel 37 apresenta a restauração dos “ossos secos” como uma obra soberana do Senhor, cuja realização histórica começou a se tornar visível no retorno do povo judeu à sua terra. Romanos 11 confirma essa direção ao anunciar que “todo Israel” será novamente acolhido na aliança, em ato de pura graça divina, após a entrada da “plenitude dos gentios”. A terra é descrita como herança perpétua concedida por Deus (Gn 17,8; Sl 105,8-11), e Jerusalém permanece como centro espiritual na revelação bíblica (Sl 122; Is 2,2-4).

Essa esperança não depende de cronologias humanas, mas da confiabilidade do próprio Deus. As Escrituras mostram que, mesmo em meio a adversidades, Israel permanece dentro do propósito redentor do Senhor, e Sião continua sendo o lugar onde graça, história e promessa convergem. O futuro bíblico não é resultado de ambições políticas, mas expressão da aliança imutável que Deus estabeleceu, renova e há de cumprir.

O que o Senhor ordena às nações

Deus ordena que as nações vivam em obediência, justiça e reverência ao seu governo soberano. Reis e autoridades são convocadas a reconhecerem o senhorio do Senhor: “Sede prudentes… servi ao Senhor com temor… beijai o Filho” (Sl 2,10-12). A Escritura ensina que povos e governos devem promover a justiça que eleva uma sociedade (Pv 14,34), exercer com retidão a autoridade delegada para conter o mal (Rm 13,1-4) e reconhecer que a verdadeira segurança nacional depende de submissão ao Criador (Sl 33,12).

De igual modo, a Bíblia declara que Deus avalia as nações pela forma como tratam o povo que Ele escolheu, conclamando-as a abençoar Israel (Gn 12,3) e a respeitar a eleição divina. Ao mesmo tempo, toda autoridade humana é chamada a favorecer a missão do Evangelho, que alcança todos os povos (Mt 28,19), criando condições para que a vida pública, a cultura e a moralidade sejam iluminadas pela autoridade de Cristo – autoridade que se estende a todas as esferas da sociedade e diante da qual tanto governantes quanto nações prestarão contas.

As nações ainda subirão a Sião

As Escrituras mostram que o destino das nações está ligado a Sião, de onde procede a instrução do Senhor. Passagens como Isaías 2,2-3 e Miqueias 4,1-2 descrevem um tempo em que povos de toda a terra buscarão a Palavra de Deus em Jerusalém, sinal de que a cidade permanece o centro espiritual para aqueles que se submetem ao Deus de Israel. Zacarias 14,16 reforça essa visão ao retratar as nações reconhecendo publicamente a autoridade do Senhor.

A Bíblia revela que as nações existem dentro do governo soberano de Deus: Ele as cria, orienta, disciplina e redime para sua glória

Nessa perspectiva, Israel e Jerusalém conservam um lugar singular no plano redentor de Deus. As nações, renovadas pela graça, não perdem suas identidades, mas as submetem ao Rei (Ap 21.24), expressando unidade na adoração ao Deus de Israel. Sião não é um símbolo do passado, mas o ponto de referência da fidelidade divina na história – testemunho vivo de que Deus mantém suas promessas e atrai os povos para sua luz.

Assim, a Bíblia revela que as nações existem dentro do governo soberano de Deus: Ele as cria, orienta, disciplina e redime para sua glória. Israel permanece no coração dessa história, preservado pela fidelidade divina e destinado à restauração prometida. As nações são chamadas a obedecer ao Senhor, a promover justiça, a abençoar Israel e, no tempo estabelecido por Deus, a unir-se a ele na adoração em Sião. Por isso, os cristãos são convocados a orar pela paz de Jerusalém (Sl 122,6), a proclamar o Evangelho entre os povos e a esperar, com reverência, o pleno cumprimento das promessas divinas.

Como o clérigo reformado Wilhelmus à Brakel orou no século 17: “Ó Senhor, Deus de Israel, a redenção nacional do teu antigo povo talvez não aconteça em nossos dias, mas virá sem falta. No teu tempo farás com que suceda repentinamente. Sê gracioso para com o teu povo! Que o Redentor venha a Sião e afaste a impiedade de Jacó! Então Israel se alegrará, os gentios se alegrarão, e juntos te renderão honra, glória e ações de graças. Aleluia! Amém.”

Matéria: Gazeta do Povo

Mostrar mais

Gabriel de Melo

Criador, fundador e locutor da Rádio Esperança e também do Blog Palavra de Esperança, tem como objetivo divulgar o evangelho de Cristo par outras pessoas através da Internet por meio dos louvores e da palavra de Deus nas mídias sociais.

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo