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Nada se compara ao terror de viver sob o domínio de uma facção

Reproduzo aqui a carta que recebi de Clarice, leitora dos meus livros. Por razões que ficarão evidentes, esse não é seu nome real. Além de mudar o nome, retirei do texto qualquer elemento que permitisse a identificação da autora.

É Clarice quem fala agora.

Caro Roberto,

Tento me afastar de temas polêmicos e manter o tom positivo nas minhas redes sociais. Mas não consigo me calar por muito tempo, principalmente diante do que tenho visto e do que já vivi. Preciso contar minha história.

Fui moradora de uma comunidade (esse é o termo que a mídia usa para se referir a favelas) até casar e mudar para uma linda cidade da serra fluminense. Essas são minhas memórias de infância e adolescência, vividas em uma pequena favela do Rio de Janeiro – infelizmente, não tão pequena a ponto de escapar do domínio do crime organizado. Lembro de voltar da escola ou da igreja sofrendo crises de ansiedade, pela possibilidade de encontrar com uma vítima da sociedade armada de fuzil na esquina, ou até na porta de casa. Sofria do medo permanente de me encontrar em meio a uma troca de tiros – um fato corriqueiro naquele lugar.

Lembro também de acordar apreensiva e ver meus pais saindo de madrugada para trabalhar, depois de ter ouvido tantos tiros na noite anterior.

Me desculpem se eu não chorar a morte de quem leva tanta desgraça, ruína e terror a populações inteiras. Eles escolheram esse caminho

Lembro de passar madrugadas acordada, tremendo (literalmente) de medo, ouvindo correria, gritos e tiros – muitos tiros – que pareciam estar sendo disparados dentro de casa. Isso não ocorria apenas durante operações policiais. Na maioria das vezes, tratava-se de briga entre as facções.

Lembro de ter a casa invadida duas vezes. Em uma dessas ocasiões as “vítimas da sociedade” apontaram fuzis para meu avô, ameaçando “furá-lo todo” se ele não abrisse o portão.

Lembro de um dia em que minha mãe (que era muito cuidadosa) não me deixou descer para brincar na rua, porque a favela tinha sido invadida por outra facção e havia perigo. Depois daquele dia, nunca mais desci para brincar – até que, de repente, eu já não era mais criança.

Lembro de ter crises de pânico ao ouvir passos, conversas e risadas das “vítimas da sociedade” vindas da laje da minha casa, transformada por eles em “escritório” – isso enquanto, sozinha em casa, eu esperava meus pais voltarem do trabalho. Na laje os criminosos escondiam drogas, armas e granadas. Subir na laje para estender roupas era um teste de coragem, assim como descer a escada, à noite, para trancar o portão, torcendo para não levar um susto com o vulto de alguma “vítima da sociedade” escondida no quintal.

Lembro de histórias de pessoas próximas, pais de família, que tiveram que abandonar suas casas só com a roupa do corpo, sob ameaça de morte, por não ceder o carro para ser usado pelo movimento ou facção Lembro de um pai de família assassinado no “micro-ondas” por ter pedido educadamente que as “vítimas” parassem de usar drogas no portão de sua casa.

Lembro de tantas coisas, a maioria bem ruim.

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A polícia comete erros? Há corrupção e excessos? Claro. Mas eu garanto: nada se compara ao terror que é viver sob o domínio de uma facção!

Me surpreendo com as pessoas que se sensibilizam mais com criminosos mortos em uma operação policial do que com os trabalhadores honestos que, diariamente, perdem suas vidas ou sua saúde mental pela ação cruel e deliberada desses criminosos. Quem pensa assim não tem noção do que é a realidade de uma favela.

Me desculpem se eu não chorar a morte de quem leva tanta desgraça, ruína e terror a populações inteiras. Eles escolheram esse caminho.

Não venham me dizer que “foi a sociedade” que fez isso ou aquilo. Para cada menino da favela que escolhe pegar em armas, há outros cem que escolheram um livro ou uma carteira de trabalho. Eles são frutos do mesmo meio – muitas vezes os honestos vivem em condições ainda piores do que aqueles que escolheram o crime. Essa é a realidade que vi na minha pequena comunidade: é sempre uma minoria que escolhe o crime, a facção, e que faz a população inteira de refém.

E sim, acredito que em Deus há perdão, redenção e regeneração esperando esses indivíduos. Mas desde que exista antes uma coisa chamada ARREPENDIMENTO.

Mas, quando um homem, voluntariamente, aponta uma arma e fuzila pessoas inocentes (incluindo policiais), ele já escolheu o infortúnio como destino, e se sujeita às consequências de tal escolha.

Sejamos lúcidos.

Clarice.

Matéria: Gazeta do Povo

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Gabriel de Melo

Criador, fundador e locutor da Rádio Esperança e também do Blog Palavra de Esperança, tem como objetivo divulgar o evangelho de Cristo par outras pessoas através da Internet por meio dos louvores e da palavra de Deus nas mídias sociais.

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