Ouça nossa programação ao vivo 24h!

Clique aqui
Últimas notícias

Os ritos de Natal são muito mais importantes do que você imagina

O valor do Natal é evidente para os cristãos, porque o rito é a atualização de um símbolo geral em um tempo e espaço pessoal e comunitário. Sem ele, existe apenas uma verdade que pode ser entendida intelectualmente, mas não vivida integralmente.

Por exemplo, se você acredita que, em algum momento da História, Deus se fez homem para que o homem pudesse se relacionar com Deus, mas não pratica nenhum rito, esse fenômeno não se repete na sua vida.

Portanto, o papel do rito é impedir que esse evento se reduza a um “tempo cronológico passado” e volte a acontecer em um “tempo cíclico presente”, do qual você participa uma vez ao ano em corpo (com gestos, adornos, atos de caridade, jejuns, etc.) e em alma (sentimentos, impressões, pensamentos, orações, etc.).

Ou seja, o rito é o símbolo dinamizado, tornado operante, atuando no mundo sensível para abrir caminho ao Invisível. Ele é efetivo: o praticante não está apenas “lembrando” um símbolo, mas entrando em sintonia real com o princípio metafísico que ele simboliza.

Por outro lado, para quem não tem a crença no Deus Encarnado, os eventos natalinos não tornam presente nada metafísico, parecem não ter significado, pois seu símbolo é concebido como vazio de conteúdo real. Então, essas pessoas devem simplesmente ignorar as festividades da época?

Vou responder a essa questão com a seriedade que ela merece, mas antes quero falar de um detalhe importante. Há um tipo específico de niilista que se sente superior simplesmente por não participar dessas festividades.

Ele olha para quem as celebra como “alguém alienado”, “manipulado”, “que desperdiça tempo e dinheiro”. A ironia é que essas críticas não vêm acompanhadas de um melhor uso do próprio tempo.

O sujeito raramente está escrevendo tratados ou solucionando dilemas filosóficos enquanto os outros montam sua árvore de Natal. E mesmo que estivesse, nenhum ser humano saudável consegue viver em eterna produtividade ou raciocínio elevado. O ócio faz parte da vida intelectual, e as festividades da nossa dinâmica social.

Portanto, o que há nesta atitude é a simples incapacidade de compreender a dimensão simbólica da comunidade humana e, frequentemente, um profundo deslocamento social. É o indivíduo que perdeu o contato com a própria cultura e, incapaz de se conectar com as pessoas, reduz tudo ao seu mundinho individual.

Vou refletir sobre essa tema a partir de uma obra de ficção japonesa: Frieren. No Ano-Novo, era tradição as pessoas se reunirem para assistir ao nascer do sol. Frieren, porém, nunca ia. Por quê?

Ela era muito voltada para questões racionais e de justiça, e não se conectava com as emoções humanas comuns, além de não gostar de acordar cedo. Certo dia, porém, ela decide ir. Não por estar convencida de que vale a pena celebrar o Ano-Novo, mas porque ela queria saber se essa sua indiferença era legítima ou apenas fruto de nunca ter se permitido experimentar aquilo que tocava as “pessoas comuns”.

E aqui está o grande aprendizado dessa parte da obra: muitas das nossas críticas aos padrões da sociedade não vêm de uma percepção de “verdades que ninguém está vendo”, mas de limitações sociais ou psicológicas.

Há pessoas que passam a vida presas em padrões mentais rígidos (sempre comem as mesmas comidas, assistem aos mesmos filmes, têm as mesmas ideias, etc.) como se já conhecessem tudo de si mesmas e do que há de melhor no universo.

Mas a psique e a realidade são infinitamente mais vastas do que os nossos hábitos. Então, quando nos abrimos a algo que vem do outro, podemos descobrir uma parte que de nós que estava adormecida, bem como adquirir novos gostos que ampliam nossa percepção e visão de mundo.

Participar de algo maior

No caso de Frieren, ela conclui que o nascer do sol é realmente bonito, mas não o suficiente para justificar acordar tão cedo. Daí ela pensa em voltar para a cama, mas sua amiga está tão maravilhada, mas tão maravilhada, que ela diz: “Eu não veria isso se estivesse sozinha. E é justamente isso que torna os eventos sociais tão especiais”.

Por quê? Como cada ser humano tem gostos muito únicos, sem a padronização de certos eventos sociais, a gente só conviveria com quem é nosso espelho — o que é impossível.

Ninguém combina em tudo. Às vezes há afinidade nas músicas, mas não nas comidas; ou no pensamento, mas não no temperamento. E os ritos têm valor justamente por nos deslocarem dos limites estreitos do nosso ego.

Eles nos fazem participar de algo maior, transformando o “eu” em “nós”. Já a pessoa muito “em-si-mesmada”, acredita que está sendo “mais ela mesma”, mas está apenas evitando amar e se abrir ao outro.

Dito isso, se você é cristão, o sentido transcendente do Natal é evidente. Mas mesmo quem não o é pode se conectar com o espírito familiar da época e com as tradições que moldaram o Brasil.

Essa simples decisão já nos tira do “ensimesmamento” e nos devolve ao convívio com o outro. E é justamente nessa abertura que, muitas vezes, algo maior se apresenta, algo que ultrapassa qualquer sentido social e antropológico.

O coração humano precisa estar sempre aberto: às pessoas que amamos, às tradições que moldaram nossa civilização e também à verdade que pode nos tocar quando menos esperamos.

Natália Cruz Sulman é mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e autora de “A Ooética de Platão: Conteúdo e Forma nos Diálogos”.

Matéria: Gazeta do Povo

Mostrar mais

Gabriel de Melo

Criador, fundador e locutor da Rádio Esperança e também do Blog Palavra de Esperança, tem como objetivo divulgar o evangelho de Cristo par outras pessoas através da Internet por meio dos louvores e da palavra de Deus nas mídias sociais.

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo