Talvez Mamdani não seja o futuro do Partido Democrata

Na noite de terça-feira, um ano após a reeleição de Donald Trump, os americanos voltaram às urnas. As disputas principais — os governos de Virginia e Nova Jersey, e a prefeitura de Nova York — apresentaram futuros radicalmente contrastantes para o Partido Democrata.
Na Virgínia, os democratas reconquistaram o palácio do governo com quase 15 pontos de vantagem, recuperando um estado que haviam perdido para os republicanos apenas quatro anos antes. Em Nova Jersey, a deputada Mikie Sherrill manteve o controle do partido por margem semelhante. Na cidade de Nova York, o candidato democrata também segurou a prefeitura — mas a margem de Zohran Mamdani foi a mais apertada em uma geração, cerca de 30 pontos abaixo da vitória esmagadora de Eric Adams em 2021.
Se os democratas fossem inteligentes, fariam de seus moderados com desempenho acima da média — Abigail Spanberger na Virginia e Sherrill em Nova Jersey — o modelo para o futuro. Ambas construíram campanhas em torno de competência e moderação, rejeitando os extremos que afastaram eleitores independentes de ambos os partidos.
Apresentando-se como deputadas comuns um pouco envergonhadas pelo drama da política nacional, elas lembraram aos eleitores suburbanos como é ser governado por adultos.
Mas essa não é a história que os democratas estão contando. A atenção, o oxigênio e os clipes virais pertencem todos a Mamdani. O prefeito eleito é um insurgente millennial, socialista e muçulmano que construiu sua marca atacando a polícia, o capitalismo e o Estado judeu. Ele venceu com conforto, embora sem impressionar, em uma das cidades mais democratas do país. Ainda assim, as câmeras o seguiram, não Spanberger ou Sherrill.
A vitória pouco expressiva de Mamdani ilustra os limites do apelo da extrema-esquerda. Ele conquistou a nomeação não pela persuasão, mas por default. O establishment endinheirado abriu caminho para Andrew Cuomo, um ex-governador marcado por escândalos. Isso deixou um vácuo que um desafiante de extrema-esquerda pôde preencher.
Em outros lugares, a marca socialista se saiu ainda pior. Em Minneapolis, o prefeito Jacob Frey derrotou facilmente o desafiante Omar Fateh, outro socialista muçulmano apoiado pela DSA. Em Seattle, até o momento, um desafiante de esquerda ativista ainda está significativamente atrás do prefeito democrata mainstream. Os eleitores de Nova York aprovaram um experimento de extrema-esquerda, mas a mesma estratégia não parece funcionar em outras cidades hiperprogressistas.
Por que, então, as pessoas estão celebrando Mamdani e não seus colegas moderados? Parte da razão é sociológica: as pessoas que trabalham na política democrata são muito mais progressistas do que as que votam nos democratas. Para elas, a ascensão de Mamdani é empolgante — um sinal de que seu projeto moral tem energia e que a política pode voltar a parecer ativismo.
Outra razão é estrutural: a mídia nacional vive de espetáculo e novidade, não de competência gerencial. Mamdani rende boa televisão; Spanberger não. E os republicanos adoram entrar no jogo, ansiosos para transformar Mamdani no rosto do Partido Democrata para poderem concorrer contra ele em todos os outros lugares.
Essa atitude ajuda a explicar por que o Partido Republicano não teve nenhuma chance na eleição de Nova York. Os republicanos ofereceram o eterno agitador Curtis Sliwa, que terminou com míseros 7% dos votos. O desempenho de Sliwa lembra o comentário de Joe Weisenthal, do Bloomberg, que brincou que “o Partido Republicano não tem nada a oferecer a eleitores com diploma superior que estão descendo na vida”. Ele está certo. Não há tantos eleitores assim, mas eles estão altamente concentrados nas grandes cidades democratas. É parte do motivo pelo qual os republicanos continuam irrelevantes localmente, apesar de vencerem nacionalmente.
Se o Partido Republicano quer impedir a “Zohranificação” das cidades americanas, deveria ao menos tentar competir nelas. Isso significaria dar margem a candidatos locais sérios dispostos a criar distância — tanto no tom quanto em políticas — entre si e o partido nacional. Rudy Giuliani e Michael Bloomberg eram moderados fora de sintonia com o partido nacionalmente, mas eram conservadores o suficiente para puxar a cidade para a direita.
Hoje, os republicanos indicam tipos, como Sliwa, que também se alienam da identidade nacional do partido, mas de forma menos estratégica — veja o endosso do presidente Trump a Cuomo, não a Sliwa, em Nova York. Os republicanos podem fazer melhor, mas precisam levar as cidades a sério, financiando candidatos que ao menos tenham alguma chance de vencer.
Quando alguém concorre como republicano em uma cidade ou estado democrata, é quase impossível vencer sem ser visivelmente moderado em relação ao partido nacional. Os eleitores dessas áreas geralmente não procuram guerreiros ideológicos, especialmente os que vêm de fora do seu partido habitual. Quando os eleitores da Virgínia enviaram o republicano Glenn Youngkin a Richmond há quatro anos, eles o fizeram porque ele transformou sua campanha em uma demonstração de normalidade, em contraste com o endosso democrata ao radicalismo cultural.
Para os democratas, o caminho é simples, embora não fácil: sigam os eleitores, não a vibe. Spanberger e Sherrill venceram agindo como se política fosse sobre administrar um estado, não liderar um movimento. Esse modelo é a rota mais segura para o poder nacional e a estabilidade social. O modelo Mamdani é um atalho para mais aclamação cultural, mas menos vitórias reais.
Para os republicanos, o desafio é simétrico: se quiserem impedir que as cidades se tornem laboratórios para políticas de esquerda, precisarão apresentar candidatos que queiram governá-las. Isso significa ser guardiões confiáveis da ordem, da acessibilidade financeira e da oportunidade.
Na terça-feira, a moderação venceu novamente. A única pergunta é se alguém em qualquer um dos dois partidos vai perceber.
Jesse Arm é vice-presidente de assuntos externos do Manhattan Institute.
©2025 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês: Maybe Mamdani Isn’t the Democratic Future.
Matéria: Gazeta do Povo





