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São Paulo

Lula tenta salvar Boulos após mandato apagado e derrota em SP

A indicação feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) do deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP) para o comando da Secretaria-Geral da Presidência combina cálculo político e tentativa de reconstrução de pontes com a base dos movimentos sociais da esquerda. A escolha, que resultou na saída de Márcio Macêdo do posto, é vista no Planalto como uma forma de reabilitar Boulos politicamente após um mandato apagado na Câmara dos Deputados e a derrota na disputa pela prefeitura de São Paulo em 2024.

Boulos foi candidato a prefeito no ano passado com o apoio ostensivo de Lula e do PT, que abriram mão de uma candidatura própria para fortalecê-lo. A aposta, porém, não se converteu em vitória: o deputado chegou ao segundo turno, mas foi derrotado por Ricardo Nunes (MDB), reeleito com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Mesmo com uma ampla frente de apoio de partidos de esquerda — que incluía PT, PDT, Rede, PCdoB e PV — e a estrutura do governo federal, Boulos repetiu praticamente o mesmo desempenho de 2020: obteve 40,65% dos votos válidos, contra 59,35% de Nunes. Em sua primeira disputa, havia alcançado 40,62%, apoiado apenas por PSOL, PCB e Unidade Popular.

A derrota, interpretada dentro da esquerda como um revés estratégico, reforçou a percepção de que o deputado, embora popular na esquerda, não conseguiu converter isso em expansão eleitoral. Como ministro do governo Lula, a expectativa é de que Boulos consiga protagonismo político e seja um ator ativo na campanha à reeleição de Lula em 2026.

“Vou viajar para todos os estados, vou rodar o país e conversar com os movimentos sociais, com o povo. Lula me deu a missão de ajudar a colocar o governo na rua”, disse Boulos ao jornal Folha de S.Paulo.

Ex-coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Boulos mantém vínculos com lideranças sociais em várias regiões do país. Assessores do Planalto acreditam que ele pode “oxigenar a interlocução” com as bases de esquerda e ampliar a presença do governo nos movimentos sociais.

A aposta entre os petistas é de que o novo ministro vai reassumir um papel que foi simbólico nos primeiros mandatos de Lula, quando o então ministro Gilberto Carvalho era a ponte direta entre o Planalto e a militância. “Vou a cada lugar do Brasil com a missão de dialogar e de levar as realizações do governo para todos os cantos, e também com a missão de aproximar o governo daqueles que ainda estão distantes”, completou Boulos.

Já parlamentares e partidos de oposição criticaram a escolha de Boulos para a Esplanada dos Ministérios. O Partido Novo apontou a radicalização do governo Lula. “Lula resolveu radicalizar o que já era péssimo. Boulos será o novo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, a pessoa certa para deixar tudo ainda pior. No cargo, vai cuidar da interlocução com os “movimentos sociais”. E o brasileiro sabe bem o que isso significa: MST, MTST, braços do petismo que agem reiteradamente fora da lei para intimidar adversários”.

“Quem trabalha, paga imposto e quer paz não aguenta mais ver invasão de casa, confisco de propriedade e dinheiro público alimentando parasitas do poder. A nomeação de Boulos mostra o que esse governo é: incapaz de dialogar com a sociedade e cada vez mais dedicado à extrema-esquerda”, afirmou o partido em uma postagem nas redes sociais.

Para o deputado Rodrigo Valadares (União-SE), a nomeação de Boulos “é o retrato de um Planalto que virou palanque ideológico”. “Quando quem representa a ordem social é excluído, sobram simbolismos vazios. É um deboche ao povo brasileiro”, defendeu.

Além deles, o deputado Capitão Alberto Neto (PL-AM) afirmou que a escolha de Boulos “mostra o quanto o Estado está sendo usado como palco e não como instrumento de serviço público. O povo produtivo fica de fora, enquanto o aparelho estatal vira prêmio para militância”.

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Atuação para salvar mandato de Janones “marcou” atuação de Boulos na Câmara

Deputado em primeiro mandato, Guilherme Boulos teve um desempenho apagado na Câmara, segundo avaliação entre integrantes do próprio PSOL. Ainda em 2023, foi alçado a líder da bancada, mas o parlamentar não conseguiu grandes destaques e tropeçou em algumas negociações do partido.

A avaliação entre os parlamentares da própria esquerda é de que Boulos usou a Câmara como trampolim eleitoral. A candidatura em 2022 foi pensada para projetá-lo para a disputa pela prefeitura de São Paulo em 2024, mas ele acabou sendo derrotado no pleito.

Aliados ouvidos pela reportagem afirmam que o novo ministro de Lula tem “bom diálogo, é flexível e articulado”. Outros congressistas, no entanto, descrevem Boulos como uma pessoa “difícil de negociar” por suas convicções políticas, às vezes mais à esquerda, mas que costuma cumprir os acordos.

Ainda no seu primeiro ano de mandato, o deputado apresentou cerca de 500 projetos, dos quais apenas dois foram aprovados, sem grandes destaques. A primeira proposta proíbe que uma instituição financeira conceda empréstimo consignado sem autorização expressa do beneficiário. O outro texto define agosto como o mês de combate às desigualdades.

Outro fator que pesou contra o deputado foi o destaque tido por Érika Hilton, sua correligionária e também deputada de primeiro mandato. Líder da bancada após a saída de Boulos, a parlamentar por São Paulo ganhou projeção ao protocolar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) sobre o fim da escala 6×1. Dentro do próprio PSOL, a avaliação é de que a projeção da deputada acabou reduzindo o protagonismo de Boulos nas pautas da esquerda.

Um dos episódios mais criticados de sua atuação parlamentar foi o parecer apresentado no Conselho de Ética em que Boulos defendeu o arquivamento da representação contra André Janones (Avante-MG), acusado de prática de “rachadinha”. A decisão contrariou a postura histórica do PSOL, que já havia protocolado pedidos de cassação semelhantes contra o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), por exemplo.

“Ele [Boulos] vai ser um péssimo ministro, assim como foi um péssimo deputado, sem aprovar nada relevante. O outro ponto positivo é que ele aceitou ser ministro porque o seu mandato estava apagado. Lula colocou mais um para atrapalhar o seu governo”, afirmou o deputado Kim Kataguiri (União-SP).

Já Rodolfo Nogueira (PL-MS) argumentou que a nomeação do deputado do PSOL mostra que o Brasil está “refém de uma agenda radical”. “Não é apenas simbólico — é prático. A partir de agora vamos ver políticas que reforçam o ativismo e não o crescimento. A nomeação de Boulos é mais um passo para que o Brasil fique refém de uma agenda radical, com privilégios para poucos e sacrifício para a maioria”, disse.

Para Coronel Tadeu (PL-SP), suplente da deputada Carla Zambelli, o movimento revela prioridades erradas do governo. “Enquanto famílias lutam para equilibrar o orçamento e empresas pagam impostos altíssimos, o governo escolhe colocar no comando daquele ministério quem sempre teve postura antagonista à iniciativa privada. É mais um erro político que custará caro ao país.”

Apesar desse desempenho como deputado, a aposta dentro do governo Lula é de que, como ministro, Boulos consiga retomar o protagonismo e aproximar o petista de uma categoria vista como primordial para a disputa de 2026: os trabalhadores autônomos das plataformas digitais. O parlamentar integra a Comissão Especial da Câmara que discute a regulamentação do setor e a expectativa é de que o relatório seja apresentado no mês de novembro.

“Tenho certeza de que o parecer desta comissão vai significar uma regulamentação para garantir direitos para os trabalhadores, seja o motorista, seja o entregador, até porque não existe setor que não seja regulamentado. Todo setor da economia é regulamentado. Só não são regulamentados o tráfico de drogas e o de armas, porque são ilegais. Portanto, tem que haver uma regulamentação”, disse Boulos durante uma audiência do colegiado.

Lula prometeu durante a campanha de 2022 regulamentar o trabalho por aplicativos, mas, até agora, nenhuma proposta avançou de forma concreta. Relator da comissão sobre o tema, o deputado Augusto Coutinho (Republicanos-PE) afirma que deve aproveitar parte do projeto enviado pelo governo, mas o relatório ainda depende de negociação.

“Quero disponibilizar o texto em novembro e votar na comissão em novembro para ir ao plenário no máximo em dezembro. Queremos algo que esteja dentro da conta da Previdência, mas que não pese para o trabalhador. Pode ser opcional, estamos estudando as alternativas”, explicou Coutinho.

Sobre o tema, assessores do Planalto afirmam nos bastidores que a função de Boulos será mudar a correlação de forças em torno do tema, de modo a transformar a pauta numa bandeira da campanha de Lula em 2026. “O trabalho por plataformas é relativamente novo. Todos os setores nascentes da indústria, lá no começo — siderurgia, petroquímica, metalúrgica —, trabalhavam com margens de lucro maiores e com menos direitos para os trabalhadores no seu início. Ao longo do tempo, isso foi se ajustando, garantindo mais direitos aos trabalhadores e redução da margem. Por que isso não pode acontecer no setor de plataformas de transporte e de entrega? Pode e deve. Isso não é uma regulação excessiva”, argumenta Boulos.

Lula mantém guinada à esquerda e se afasta do centro para 2026

A mudança na Secretaria-Geral da Presidência feita por Lula ocorre no contexto da reforma ministerial discutida desde o início do ano. Inicialmente, o presidente petista pretendia ampliar o espaço do Centrão para garantir sustentação no Congresso, mas a queda de popularidade e a resistência pessoal em ceder pastas estratégicas acabaram freando o avanço das negociações.

Partidos como PP e União Brasil reduziram o apetite por cargos, e o resultado foi uma reforma que reforçou o núcleo petista. As trocas anteriores seguiram a mesma lógica: Nísia Trindade deixou o Ministério da Saúde, substituída por Alexandre Padilha (PT), que estava na Secretaria de Relações Institucionais — hoje sob comando de Gleisi Hoffmann, ex-presidente do PT.

A chegada de Boulos aprofunda essa tendência e sinaliza uma guinada à esquerda dentro do governo, num esforço de Lula para recompor sua base ideológica e simbólica antes da disputa de 2026. Líderes do Centrão avaliam nos bastidores que o petista se afasta cada vez mais dos partidos de centro que o apoiaram em 2022, e o novo ministro deve ampliar essa percepção entre os parlamentares e a sociedade.

Nos últimos meses, Boulos também se destacou por liderar mobilizações críticas ao Congresso Nacional. Em meio ao clima de tensão entre o Legislativo e o Executivo, organizou atos em São Paulo contra a PEC da Imunidade — apelidada por seus críticos de “PEC da Blindagem” — e o projeto de anistia, em sintonia com o discurso de “nós contra eles” que marcou a retórica do governo.

Ele também dirigiu críticas diretas ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) — apontado como o principal cotado para ser o nome da direita para a disputa presidencial de 2026.

Matéria: Gazeta do Povo

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Gabriel de Melo

Criador, fundador e locutor da Rádio Esperança e também do Blog Palavra de Esperança, tem como objetivo divulgar o evangelho de Cristo par outras pessoas através da Internet por meio dos louvores e da palavra de Deus nas mídias sociais.

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