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Opinião

Segurança pública é caso de ciência policial

“Isso é caso de polícia!” A expressão, tornada bordão de programas sensacionalistas, transformou-se ao longo do tempo em sinônimo de caos, violência e desordem. Virou uma senha para o medo e o descrédito. Ao mesmo tempo, o enfrentamento aos roubos e ao crime organizado tornou-se um dedo em riste nos apelos públicos, com impacto eleitoral e percepção como o maior problema da sociedade brasileira, e até nas respostas governamentais – como recentemente nos programas e operações que o governo federal tem lançado. Diante disso, é preciso refletir sobre como instituições, governos e sociedade tratam o tema, e como realmente podem contribuir com as polícias. Porque, em última instância, o que está em jogo não é apenas o combate ao crime, mas a compreensão científica da segurança pública.

A atividade policial é um campo de ações e conhecimentos vastos, marcado por práticas, tradições e códigos próprios. Costuma-se dizer, como afirmou Sávio Pontes, comissário de polícia e doutor em Sociologia, em episódio do podcast Debate Brasil, da UNIPOL, que “só sabe o que é ser polícia quem é policial”. É dessa experiência, muitas vezes invisibilizada pelos espaços acadêmicos tradicionais, que nasceu um campo de saber que precisa ser compreendido, ensinado e, sobretudo, reconhecido: o das Ciências Policiais.

No Brasil, o mérito das Ciências Policiais é permitir que se fale de segurança pública sem os velhos estigmas

Durante décadas, a segurança pública foi tratada quase que exclusivamente, enquanto conhecimento aberto, pelas lentes das ciências sociais e jurídicas, sem que a voz da polícia – e a prática de quem está na linha de frente – tivesse lugar legítimo no debate público. Essa lacuna, no entanto, começou a ser corrigida quando o Ministério da Educação (MEC), por meio da Resolução CNE/CES nº 1, de 6 de junho de 2019, reconheceu oficialmente as Ciências Policiais, de Segurança e de Ordem Pública como área formal do conhecimento. Esse ato foi mais do que administrativo: foi um reconhecimento de que o trabalho policial é um trabalho intelectual – não apenas objeto de conhecimento, mas agente e produtor da ciência – e que envolve observação, método, estratégia e teoria.

A partir desse marco, tornou-se possível pensar a segurança pública não apenas como política de governo ou narrativa literária, mas como campo científico interdisciplinar, capaz de integrar saberes da psicologia, sociologia, administração, direito, química, biologia, educação física, tecnologia e engenharia, com um núcleo empírico derivado da própria prática policial.

Essa integração entre prática e teoria é o que confere às Ciências Policiais uma natureza profundamente inovadora. Quer dizer: fazer ciência a partir da ação e submeter a ação à prova da ciência, como classicamente defendiam Egon Bittner e David Bayley, entre outros formuladores de uma Teoria da Polícia. Ambos mostraram que compreender o papel da polícia é compreender o próprio modo como uma sociedade define a ordem, o conflito e o poder legítimo.

No Brasil, o mérito das Ciências Policiais é permitir que se fale de segurança pública sem os velhos estigmas. Quem não lembra da célebre cena de Tropa de Elite I, em que o policial bacharelando em Direito é hostilizado por uma turma fascinada por Michel Foucault, mas desinteressada da realidade do crime e do risco? A diferença é que agora, ao tratar do tema como ciência, é possível acolher diferentes perspectivas, desde que sustentadas por evidências, resultados e ética pública – e não apenas por convicções morais ou políticas.

As Ciências Policiais ampliam o escopo do estudo da segurança pública para campos como balística forense, crime organizado, inteligência policial, direito operacional, gestão de crise, comando e controle eletrônico, uso de inteligência artificial no combate ao crime e policiamento orientado pela inteligência.

Elas também oferecem fundamentos científicos para práticas experimentais, aproximando o campo policial de modelos baseados em Aprendizado Baseado em Problemas (ABP). Esse método, que revolucionou o ensino das universidades americanas nos anos 2000, articula teoria e experiência e, na vida policial, manifesta-se naturalmente – o policial aprende e ensina resolvendo problemas reais, no tempo e espaço da ação.

Mas o reconhecimento acadêmico precisa ser acompanhado de espaços de difusão, debate e inovação. É nesse contexto que o Instituto Arrecife tem desempenhado papel decisivo na consolidação das Ciências Policiais no Brasil. Depois do sucesso do I Fórum Internacional de Ciências Policiais (FICP 2024), realizado no Rio de Janeiro, chega agora a segunda edição do evento: o FICP Bahia 2025, que ocorrerá nos dias 30 e 31 de outubro, no SENAI CIMATEC, em Salvador.

Sob o tema “Inteligência Policial e Novas Tecnologias no Combate ao Crime”, o FICP Bahia 2025 é uma realização da Secretaria da Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP-BA), com organização científica do Instituto Arrecife, e reúne especialistas nacionais e internacionais que são referência no campo. Entre os convidados estão nomes como Jason Potts (Las Vegas, EUA), Alessandro Visacro, Márcio Saldanha Walker, J. Fitzgerald (Irlanda), Araújo Gomes (Prefeitura de Florianópolis), José Eleutério (ALERRT/Texas, EUA), além da significativa participação do secretário de Estado da Bahia, Marcelo Werner, e do secretário da Segurança Pública do Amazonas, Cel. Marcus Vinícius Oliveira. O evento contará ainda com policiais, autoridades e pesquisadores oriundos da SSP-BA, PF, PMERJ, PCERJ, SEAP-BA, TCE-RJ, GCM Salvador, IFBA, UFRJ, UFCG, ECEME, IME, PMPB, GAECO/MPBA, TJBA, COPPE-UFRJ, UNIPOL, UFPE, Australian Strategic Policy Institute (ASPI), SENAI CETIQT e SENAI CIMATEC, além de instituições financeiras como Banco Safra, Santander e Stone.

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O FICP Bahia 2025 conta com apoio de instituições como ABIMDE, ABRABLIN, ABRASEL BA, Alpha Bravo Brasil, CDL Salvador, Editora Griffos, Jacobina Mineração – Pan American Silver, N Engenharia, Pro Meal e UNIPOL, e patrocínio de Avantia, AXON/Oakmont Group, HEX 360, HTE – Hispania Telecom Energy, Inspect, IWI e Protecta Group, com patrocínio master da EDGE Group e da Ironfence.

A atenção e o protagonismo da SSP-BA na realização do FICP Bahia 2025 demonstram a maturidade institucional e a visão estratégica de uma gestão que compreende que enfrentar o crime exige método, integração e conhecimento. O Estado da Bahia torna-se, assim, sede de um movimento que ultrapassa fronteiras – um fenômeno que reúne polícias, universidades, empresas e governos em torno de uma ideia central: sem ciência, não há segurança sustentável.

O livro Ciência, Polícia e Inovação: I Fórum Internacional de Ciências Policiais (Editora Jaguatirica, 2025), que registra as pesquisas e debates da primeira edição, já é considerado um marco para o campo, reunindo contribuições de autores brasileiros e estrangeiros, como J. Pete Blair (Texas State University) e Fabrício Oliveira, entre outros. A obra representa o início de uma tradição científica que o FICP Bahia 2025 vem expandir e consolidar.

Ao final, a mensagem que se impõe é simples e definitiva – segurança pública sem ciência é tiro no escuro. Nos dias 30 e 31 de outubro de 2025, Salvador será a capital mundial dessa nova fronteira do conhecimento. O convite está feito: o FICP Bahia 2025 é mais do que um evento – é um marco na história das Ciências Policiais no Brasil.

Luiz Ramiro é cientista político, doutor pelo IESP-UERJ, membro-fundador do Instituto Arrecife e organizador do Fórum Internacional de Ciências Policiais (FICP).

Matéria: Gazeta do Povo

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Gabriel de Melo

Criador, fundador e locutor da Rádio Esperança e também do Blog Palavra de Esperança, tem como objetivo divulgar o evangelho de Cristo par outras pessoas através da Internet por meio dos louvores e da palavra de Deus nas mídias sociais.

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